PRATICANDO A ACESSIBILIDADE ATITUDINAL
Descrição da foto para deficientes visuais: Deborah Prates e sua filha Alice Mabel Prates estão agachadas no centro da foto, com os braços entrelaçados e sorrindo para a câmera. À frente está Jimmy, cheirando o pé de um coqueiro. A paisagem é de um céu azul, o mar calmo e uma faixa de areia.
Quero acreditar que o leitor,
depois de ter lido sobre acessibilidade atitudinal, esteja apto a investigar e
rever as velhas "verdades" que ainda engessam - em 2015 - os nossos
cérebros. Quero acreditar, ainda, que tenha ajudado na construção de novas
certezas acerca das pessoas com deficiência, bem como das acessibilidades. Por
conseguinte, quero crer que, através da reformulação do conhecimento, o cidadão
tenha concluído que cidade acessível é mesmo para todos!
Almejo, com os meus escritos,
ter despertado em muitos o sentimento da solidariedade. Sei que essas novas e
boas sementes estão germinando, brotando, nascendo e perguntando: de que forma
poderia exercitar a tal atitudinal? como posso ajudar? como proceder na
prática?
Para esse recomeço dos humanos
que abandonaram a cegueira voluntária é que deixo algumas sugestões básicas de
exercícios de acessibilidade atitudinal. Todas sem custos e sem necessidade de
ser autoridade para realizá-las! Percebam que somos nós - individualmente - que
representamos a possibilidade de um mundo melhor para todos.
O leitor, depois desse pontapé
inicial, poderá dar asas à sua imaginação e voar com ética, voar com ética,
voar com ética... quebrar velhos preconceitos... romper barreiras... formular
novos conceitos... arrebentar as grossas correntes... sair das sombras e
encontrar o sol.
A - Be My Eyes (Seja Meus Olhos)
Na era tecnológica, penso que o
humano que tenha Iphone gaste muito de seu tempo brincando no aparelho com
passatempos egoístas, melhor dizendo, com distrações que só beneficiam o
próprio usuário. Nada contra! Mas, e se essa visão individual migrasse um
pouquinho para beneficiar a coletividade? Bacana, hein?
Hans Jorgen Wiberg, deficiente visual dinamarquês, ao invés de
ficar apenas reclamando da vida, colocou em prática um maravilhoso pensamento,
traduzido no aplicativo apresentado no site do Be My Eyes (seja meus olhos).
O objetivo do aplicativo é
fomentar a solidariedade para que todas as pessoas que tenham o sentido da
visão em bom estado, possam emprestar seus olhos - por alguns segundos - para
os cegos.
Claro que, assim como eu, os
deficientes visuais querem mesmo é desfrutar dos direitos constitucionais,
como, por ilustração: ir e vir com liberdade, trabalhar... Porém, sempre repito
em minhas palestras que, por mais esforço que eu faça, Deborah Prates nunca
mais será a mesma de antes da cegueira.
Sem serem submissas, as pessoas
com deficiência hão que ser humildes; o suficiente para reconhecerem que em
inúmeros momentos do dia a dia necessitam de olhos amigos, solidários. Nesses
simples e importantes instantes é que o aplicativo "seja meus olhos"
é uma benção.
Sou cadastrada no aplicativo e
aqui dou o meu testemunho sobre a genial ideia. Antes de saber da ferramenta
fui fazer um macarrão e, dentre vários pacotes, fiquei sem saber qual deles era
o integral. Estava só em casa, valendo dizer sem um olho amigo. Até tentei
colocar o pacote sobre o vidro do scanner para ler a embalagem; não consegui.
Acabei pegando um pacote qualquer que, ao final, não era o integral.
Veja, caro leitor, que foi uma
besteira! Todavia, depois do Be My Eyes pude, em menos de um minuto, consultar
um olho solidário e degustar, exatamente, o que eu desejava. Poxa, senti-me tão
feliz! Percebi na voz do humano voluntário tanta satisfação em ajudar-me...
emoção indescritível... tão simples, né? Meus olhos encheram-se de lágrimas
quando ouvi da minha filha que ela já havia feito a sua inscrição como
voluntária... princípios e valores humanos aprendem-se em casa...
Pratique a atitudinal e faça
você também a sua inscrição no site Be My Eyes. É fácil ser um voluntário! sem
custos e sem burocracia!
Basta fazer o download do
aplicativo e se cadastrar, tanto pelo Facebook, quanto pelo endereço de e-mail.
Informe sobre a sua disponibilidade, bem como do idioma falado.
Somente isso mesmo! Então, o
voluntário entra em uma fila de espera podendo receber uma chamada no vídeo
chat a qualquer minuto. Se, por ilustração, no momento da chamada você estiver
dirigindo, não se preocupe. A chamada, automaticamente, será redirecionada para
outro voluntário.
O aplicativo está disponível
apenas para Iphone, contudo, tão maravilhoso é que, em breve, penso que já
estará pronto para outros sistemas. O importante foi que já começou o fomento
da cultura da solidariedade.
Através da mudança do seus
hábitos, comportamentos, o leitor poderá colaborar para que uma pessoa cega
saiba, por exemplo: a data de validade de medicamentos, alimentos, cosméticos;
conheça como é o local onde estiver através da descrição da imagem; leia
rótulos diversos e muito mais!
B - Reveja seu bigode
Para uma pessoa surda, que lê os
lábios de seu interlocutor, o bigode é um monstro, um vilão.
Imagine-se um homem credenciado
no setor de RH de uma empresa fazendo entrevista de um candidato surdo.
Basta parar e pensar que aqueles
pelos que crescem na parte superior dos lábios e que muitas vezes o escondem
impedem que a pessoa surda proceda a leitura labial. Ora, o candidato já chega
nervoso, precisando desesperadamente daquela vaga e, ao olhar para você, não
consegue entender absolutamente nada por conta do seu bigode. Situação
patética, triste! Poucos humanos já pararam para refletir sobre o assunto.
Imagine-se
no lugar do candidato e responda: vale mais ostentar a sua vaidade com o farto
bigode ou tem mais valor incluir em seu diálogo o ser humano surdo.
O leitor pode argumentar: esse
assunto não me diz respeito, já que não trabalho em RH. Puro egoísmo! Já se
imaginou - portando seu ostensivo bigode - no interior de uma loja de
departamentos pedindo ajuda sobre um produto a um trabalhador sem saber que ele
é surdo? O empregado, perplexo, fica estático olhando para o seu maxilar que
sobe e desce, sem que ele possa entender coisa alguma! Situação constrangedora
e que pode comprometer o emprego de uma pessoa com deficiência.
Agora é o leitor um juiz de
Direito - que exibe em seu rosto abundante bigode - e está na presidência de
uma audiência. Na mesa encontra-se uma das partes, representada por um advogado
surdo, numa situação deveras humilhante, vez não conseguir fazer a leitura do
diálogo em seus lábios por culpa - exclusiva - do seu bigode. Então, como
representante do Poder Judiciário, o leitor, antes de julgar o próximo, precisa
autojulgar-se e ver se condena a si próprio por não ser um cidadão ACESSÍVEL.
Revendo a sua vaidade,
superficialidade, é que sugiro seja autoavaliado o seu bigode. Seja solidário,
mude seus hábitos e conceitos; corte o seu bigode! Torne o planeta mais
acessível.
C - Respeite os Assentos Especiais
Nos transportes, salas de
espetáculos e em tantos outros locais existem assentos preferenciais, melhor
dizendo, especiais para pessoas com deficiência e limitações físicas, idosos,
gestantes... que, na maioria das vezes, estão ocupados por humanos que não
preenchem as condições para estarem sentados neles.
Esses lugares representam um
número ínfimo no contexto dos assentos e têm que ser respeitados por todos; é
lei! Ocorre, na prática, que virou regra serem ocupados por qualquer humano,
ainda que fora das especificidades da destinação. No Metrô do Rio de Janeiro é
raro as vezes que entro num vagão, acompanhada de meu cão-guia, e tenha algum
lugar especial vago. Estão sempre ocupados por quem não tem direito a eles,
sendo que eu tenho que puxar "briga" para exigir que a pessoa se
levante para que eu possa ocupar o que a lei me reservou. Situação cansativa e
vexatória para ambas as partes.
Eis uma boa oportunidade para
que o leitor reflita sobre a situação e mude seu mau comportamento. Eis uma
atitude transformadora para um Brasil mais justo. Só depende da sua
solidariedade.
***
Pronto! A partir desses simples
gestos de solidariedade o cidadão já estará tornando o planeta mais ACESSÍVEL!
Para essa singularidade você precisa, tão-só, modificar-se; ver além do que os
seus olhos podem ver... reciclar seus velhos preconceitos e atualizar
conceitos... a verdade de ontem não vale mais para hoje.
ACESSIBILIDADE ATITUDINAL JÁ!
Aaaahhhhhhhhhh que espetáculo de atitudes a serem tomadas por todos nós. Vou já compartilhar o texto, tomara que leiam e coloquem além de suas opiniões a prática das atitudes simples para melhorar o conviver de todos e tornar a vida acessível. Sim, ela precisa ser acessível a todos e bastam poucas e simples modificações no egoísmo de cada um... Agora estou ansiosa para que o BE MY EYES esteja acessível a todos dispositivos móveis , (ele precisa estar) para que eu possa me cadastrar como voluntária.. Vou adorar... Parabéns Deborah pelos seus textos tão lúdicos e lúcidos... Amei!
ResponderExcluirQueridíssima Elizabeth Marge, muito obrigada pelo seu habitual incentivo!
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