ACESSIBILIDADE ATITUDINAL SOB O FOCO DA IGUALDADE DE GÊNERO
Descrição da foto: primeira mesa de palestras do evento da OAB MULHER RJ, sendo Deborah Prates a primeira da direita para a esquerda.
Na
incansável militância para provar que as acessibilidades interessam a toda
sociedade e não apenas às pessoas com deficiência foi que tive a honra de
integrar, como palestrante, o I Forum da Comissão OAB-Mulher ocorrido no dia
25/8.
O
meu tema foi: ACESSIBILIDADE ATITUDINAL SOB O FOCO DA IGUALDADE DE GÊNERO.
Persisto ser a atitudinal a principal das acessibilidades, já que representa a
chave para um Brasil mais igualitário em oportunidades para todos. A OAB RJ
recebeu, com sucesso, homens e mulheres ávidos para discutir esse crucial tema
da igualdade de gênero, sendo a minha palestra um ponto de interrogação.
Pairava no ar: o que a acessibilidade tem a ver com igualdade entre homens e
mulheres?
Iniciei
cumprimentando os presentes primeiro fora do microfone e, seguidamente, usando
o mesmo. Elucidei que os cegos têm que se sentir incluídos e não apenas
integrados. Disse que eu vejo com os ouvidos, pelo que materializo o humano
pela direção da sua voz. Então, acho um desrespeito o cego ficar olhando para
as caixas de som, as quais sempre estão na direção oposta da real localização
de quem fala.
Claro
que levei um intérprete de LIBRAS para que as pessoas surdas ou com deficiência
auditiva, também estivessem incluídas. Respeito é bom e nós o exigimos!
Lamentavelmente
a sociedade não tem consciência da igualdade de oportunidades aos diferentes.
Desconhecem a necessidade da audiodescrição para os humanos cegos, com baixa
visão, com deficiência intelectual, autistas, disléxicos, com síndrome de Down
e idosos.
Por
esse torpor mental é que precisam praticar diariamente exercícios de
atitudinal, a fim de mudar os maus hábitos em geral.
Continuei
comandando a ginástica cerebral afirmando serem as mulheres - por questões
culturais - mais presentes na educação dos pequenos, razão porque precisam ser
PROATIVAS. Desenvolvendo essa característica sei que terão muito mais
iniciativas e responsabilidade na formação de personalidades éticas. Nesse caso
o treinamento é refletir sobre a pergunta: que planeta deixaremos para os
nossos filhos?
Penso
que a resposta esteja em outra pergunta: que tipo de filhos deixaremos para o
planeta? Certo é que a pior cegueira é a voluntária, opcional. Pesquisas dão
conta de que em 2015 as mulheres estão com o nível de escolaridade maior do que
os homens. Logo, têm a capacidade de pensar formas antecipadas de prefinir e
solucionar os conflitos de igualdade de gênero. A genialidade e inteligência
das mulheres contemporâneas, certamente, conseguirá propiciar o desejado
bem-estar no presente, bem como garantir a felicidade para as gerações futuras.
Eis o princípio do humano sustentável!
Para
desconstruir essa sociedade machista que nos assola, mister se faz mostrar que
somos biologicamente diferentes, porém iguais em direitos e obrigações, de
maneira que temos que ter, por ilustração, igual remuneração sempre que
exercermos o mesmo trabalho que o homem.
Inconcebível
dentro dos nossos lares continuarmos regando, cultivando, as velhas tradições,
ou melhor, os tantos preconceitos que nos foram sendo transmitidos por pais,
professores, livros, etc, acerca do mito da submissão da mulher em um global
contexto.
Os
filhos do século XXI ainda são criados na cultura de que são as mulheres
frágeis sob a ótica do ser físico, quanto do ser emocional e do econômico.
Assim, a conclusão errônea é a de que as mulheres ainda hão que ser tuteladas
pelos homens.
É
nesse histórico preconceito que as mulheres ainda permitem que em suas casas os
trabalhos domésticos sejam divididos entre os típicos dos homens e os típicos
das mulheres. Isto significa que as mães e filhas estão obrigadas a fazer a
comida e cuidar dos afazeres do lar, enquanto que os maridos e filhos estão
vinculados aos afazeres com o carro, os intelectuais e os de reparos gerais
relativos à casa.
Esses
códigos de condutas têm que ser desconstruídos pela sociedade, sendo o começo
em cada lar. Simples assim! Os pais hão que dar o exemplo para os filhos, pelo
que nunca mais as crianças ouvirão as horríveis máximas: rosa é cor das
mulheres e o azul é dos homens; meninos brincam com bolas e carros e as meninas
com bonecas, panelinhas e vassouras. Não mais. Doravante o pai, se quiser, usa
camisa rosa e não se incomoda se o filho preferir brincar com a boneca da irmã
e, por seu turno, se esta preferir o caminhãozinho do irmão.
Na
família hodierna a mulher faz também pequenos reparos, na medida em que o homem
prepara o almoço do domingo. Vale dizer que a palavra mágica da hora é
participação e, não mais ajuda. Homens e mulheres são corresponsáveis na
condução familiar.
No
momento em que as crianças perceberem que em casa a mãe e o pai são iguais em
direitos e deveres, ficará mais fácil a aceitação dos diferentes. Assim, com a
igualdade de gênero cultivada em casa, por ilustração, um conceituado e
tradicional colégio religioso no Rio de Janeiro irá cerrar as suas portas. Isto
porque cultiva o sexismo, valendo dizer que só os meninos podem ser
matriculados. E o preconceito não para por aí! Esse dito estabelecimento de
ensino não tem qualquer acessibilidade, pelo que não aceita meninos cegos! Tive
a oportunidade de telefonar para a secretaria para falar sobre o edital de
2016, quando a atendente Alessandra disse que: - Esse colégio não aceita meninos
com deficiência por não ter adequações para tanto. Absurdo, hein?
Então,
com simples atitudes praticadas em casa tudo poderá ser diferente. Depende
muito de nós querermos desconstruir tudo quanto não pensamos para aceitar. Temos
que quebrar as regras estabelecidas e desafiar aqueles que insistem em nos hostilizar, nos discriminar!
Exercitando
a atitudinal teremos a oportunidade de reciclar os cruéis preconceitos, rever
inadequados conceitos e, desse modo, fazer as pazes com a ética na formação de
pessoas solidárias. Daí teremos professores, médicos, gestores, engenheiros e
tantos mais profissionais solidários que saberão bem recepcionar as pessoas com
deficiência. Hidrantes sobre rampas, bancas de jornal sobre pisos táteis, Processo
Judicial Eletrônico (PJe) fora do W3C...Nunca mais! Repito: simples assim!
Encerro
esta crônica aduzindo que o simples não é o simplório. Convido o leitor a
refletir sobre um pensamento do genial Leonardo da Vinci: "A simplicidade
é o último grau da sofisticação".
** Parabéns a toda OAB MULHER RJ pela realização do evento, em especial a presidenta Rosa Maria Fonseca, que acreditou no projeto.
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