NAVEGANDO NO SECO
Descrição da imagem para DV's: Em evidência o chão marrom e rachado da represa de Jaguari,.em São Paulo. No fundo da foto vê-se as gigantes paredes que compõe a represa, como também alguma vegetação ao redor.
A falta de esperança é
sinônimo de insegurança, medo, frustração... aonde está o norte?
Liguei a TV e meus
ouvidos viram uma notícia sobre o HIDROANEL METROPOLITANO DE SÃO PAULO. O cara
falava sobre mobilidade urbana. Em especial, para a pessoa com deficiência, o
tema sempre atrai, pelo que redobrei minha atenção.
Para este fim,
entendo, modestamente, como mobilidade urbana a possibilidade ou mestria que têm
os munícipes de deslocamento no espaço urbano para a realização das atividades
cotidianas em tempo satisfatório/confortável e seguro. As cidades têm sido administradas
pelos e-gestores que, de seus computadores e em ambientes deliciosos, esboçam
suas ordens para que os comandados, de modo ineficaz, deem, por ilustração,
Concessão de Uso para que banca de jornal acabe em quinas ou termine em escadas
que chegam a lugar algum; hidrômetros sejam instalados sobre rampas; vagas para
deficientes marcadas em cantos sem saída impedindo o trânsito de cadeiras de
rodas, muletas... Por estas poucas e comuns narrativas fica cristalino que
pessoas com deficiência são fictícias, invisíveis, alienígenas! Se o comandante
não sabe que erra, como corrigir a rota do navio?!
Amigos leitores,
tenho ou não razão em insistir que só poderiam tomar posse em cargos públicos
aqueles que soubessem lidar com os seres humanos, que conhecessem as
diversidades? ATITUDINAL JÁ! (http://deborahpratesinclui.blogspot.com.br/2014/05/e-humano.html)
Tratava-se de projeto da Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo da USP, do Grupo Metrópole Fluvial, que consistia numa
rede de vias navegáveis composta pelos rios Tietê e Pinheiros, represas Billings
e Taiaçupeba, além de um canal artificial ligando essas represas, totalizando
170km de hidrovias urbanas. O desenvolvimento urbano sustentável seria o troféu.
Os rios urbanos
transformariam-se em vias para transporte de cargas e passageiros, uso turístico
e de lazer e muito mais que o paulistano pudesse sonhar. As justificativas eram
maravilhosas, como, por exemplo, o acesso universal à cidade e o bem-estar
social. Nossa, achei a ideia; dos deuses; que máximo!
Meus neurônios
congelaram. Dei um travão na viagem. Algo havia de errado nas informações. Não
fazia muito que havia lido que, pela falta de investimento do governo na ampliação
de mananciais em SP, a população sofreria com o esvaziamento das águas na
Cantareira, no Alto Tietê... Até a água do fundo das represas, abaixo do nível de
captação das comportas, seriam usadas para melhorar o abastecimento. A mídia
noticiou que para esse cruel tapa-buraco o governo gastou cerca de R$ 80 milhões
para construir canais e instalar bombas.
E chegou o grande dia
da "inauguração" do VOLUME MORTO! Como a história se repete é que
vale lembrar aqui o imperador romano Otávio Augusto, que criou a política do pão
e circo. O ditador continha a revolta da multidão oferecendo alimento e muita
diversão. Atualizando, os "e-gestores" paulistas fizeram,
inacreditavelmente, festa para a nova edição do VOLUME MORTO! Certo é que o
povo fechou o sorriso quando constatou que a água não chegara nas torneiras...
e a brincadeira acabara bem perto do outubro eleitoral!!!
Pois é, mas
retornando ao sonho da mobilidade urbana traduzido pelo lindo projeto da USP,
para o qual os administradores injetaram recursos dos cofres públicos, é que
parei para pensar no tremendo contrassenso: como gastar em espetaculares
projetos para transformar os rios urbanos em vias para transporte de cargas e
passageiros, quando a água está morrendo/secando? Julgo que seria mais coerente
se os paulistanos brigassem para que os recursos fossem alocados para a ampliação
dos mananciais, o que não acontece há uns 30 anos. Daí é que a coletividade de
São Paulo vai sonhando e navegando no seco... e o dinheiro indo comportas
abaixo...
A Copa já chegou e,
com ela, o circo de Otávio e o futebol! Li que o legado que este planetário
evento deixará para o povo será, tão-só, de uns 20%; quer dizer: um LEGADINHO!
E a desesperança toma conta da sociedade, em especial, das pessoas com deficiência.
Antes sofríamos com a total falta de acessibilidade de todo gênero; depois com os
canteiros das inacabadas obras e, pela previsão dos especialistas, permaneceremos
no profundo inferno astral... tudo igual... para as pessoas sem deficiência
20%... para as pessoas com deficiência e mobilidade reduzida restarão as mesmas
promessas... mais do mesmo. E vamos entoando a canção interpretada por Zeca
Pagodinho: "Deixa a vida me levar... vida leva eu... sou feliz e agradeço
por tudo que Deus me deu..."
A falta de água em São
Paulo não pode ser atribuída à ausência de chuvas nos últimos tempos, assim
como os deficientes NÃO podem se conformar com a falta da acessibilidade
amparada na absoluta desumanidade dos "e-gestores". Indubitavelmente é
a SOLIDARIEDADE o sentimento que nos faz HUMANOS. Os valores e princípios
norteadores da ética hão que voltar à moda. Hei de realizar o sonho de ver
incluído nos currículos dos cursos universitários a disciplina: o estudo da solidariedade.
Somente desse modo retiraremos as pedras que repousam sobre as sementes, que não
germinam por falta de OPORTUNIDADE. Precisamos todos da oportunidade da
felicidade.
O lema do imperador
Augusto está se repetindo em 2014. A Copa está nos entorpecendo/anestesiando. A
população está se esquecendo dos problemas do viver diário. A história nos dá
conta de que os argumentos de Otávio Augusto se repetem: divertidos e bem
alimentados, não teriam por que reclamar. Pão e circo... água do volume morto...
Até quando os deficientes suportarão?
O leitor me perguntará:
qual a solução? Respondo sem medo de ser prazenteira: a UNIÃO. Que tal se juntássemos
todos os humanos que integram os grupos sociais vulneráveis? O IBGE diz que os
negros são mais de 52% da população; que os deficientes são mais de 24%...idosos...
índios... crianças/adolescentes...mulheres... Certo é que o enlace de todos os
que precisam das ações afirmativas/positivas para terem resguardados os seus
direitos constitucionais - DIREITOS HUMANOS - daria um novo tom nas regras
sociais. Que moral é essa que está ditando a tendência e a moda dos saques, dos
linchamentos, dos quebra-quebras... Qual será a fantasia do próximo Carnaval?
DEBORAH PRATES
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