Hoje
acordei melhor. Bem melhor depois de 15 dias mergulhada na cama em decorrência
da cruel Covid-19. Acho que mais uma semana eu esteja recuperada inteiramente.
Nem acredito! Lembrei que estamos no domingo do Dia das Mães. Para mim toda
essa quinzena não teve separação de dias. Foi somente um passar que não passava
nunca. Jamais havia tido essa estranha sensação. A doença deixou bem claro que
somente existia o presente. Nada mais. Muito esquisito a falta de perspectiva próxima. Um
vazio na alma. O cérebro fica dormente. A cada vida perdida um grito de dor e
um arrepio medonho ...
Sinto
que hoje é o Dia da Mãe Terra, a qual é esquecida diariamente. Somente ela tem
braços para acolher tantas irmãs e tantos irmãos que partem para o infinito. O
capitalismo arde e nos queima com ele. Não adianta ter dinheiro para levantar
os jatinhos, já que as fronteiras estão fechadas para nós. Insistimos na mania
de confundir cidadania com consumo. Tenho a esperança de que essa pandemia
sirva para mostrar que os seres humanos valem pelo que são e não pelo que podem
comprar, consumir.
Ainda
hoje a falta do consumo nos exclui sem dó nem piedade. Somos avaliadas pela
quantidade de coisas que ostentamos. Quanto mais acumularmos, melhor a nossa
avaliação. Ante a obsolescência programada, o consumo há que ser diário para
estarmos no topo da futilidade. No contraponto, o respirador mostra bem que
muitos não sobreviveriam sem ele. Ficaria tudo igual, não fosse a
necropolítica. Precisamos usar os bens a nosso favor. Penso o quanto os profissionais
da saúde estejam impactados com as lições diárias que a vida lhes ensina. Para
estes os meus aplausos.
Agora
é o tempo para ficarmos em casa e liberar as ruas para aqueles que não têm
abrigo e para os que precisam transitar por ela para salvar vidas. Então, é
tempo para refletir. Refletir na saúde física e emocional. Refletir no consumo
zero. Quando estamos com saúde, na maior parte do tempo, a usamos com soberba.
O nariz consegue se sobrepor ao crânio. As vezes a força da saúde chega às
raias de humilhar o outro que está inerte jogado em um leito necessitando que
lhe tragam um copo d'água. Já pensou?! É na hora de muita fragilidade que
percebemos a importância da saúde física e emocional.
Ontem
assisti uma entrevista com o indígena Ailton Krenak, o qual nos dá banho de
civilização. Que homem sábio, crítico e, ao mesmo tempo, delicado. Verifiquei o
quanto precisamos rever o nosso modo de tratar um ao outro e à Mãe Terra. Nutro
a esperança de que essa Covid-19 sirva para alertar a humanidade que ela deva
prosseguir tão-só com o necessário. O extraordinário é demais... reconhecer e
respeitar as diversidades é questão de inteligência, sobrevivência...
Segurando
a bandeira da esperança vou encerrando essas reflexões convidando a todas,
todes e todos a ter mais respeito e atenção com a mãe de todas as mães, quem
seja a Mãe Terra. Que discurso lindo, profundo, esse Krenak tem.