domingo, 10 de maio de 2020

Dia da Mãe Terra 2020



Hoje acordei melhor. Bem melhor depois de 15 dias mergulhada na cama em decorrência da cruel Covid-19. Acho que mais uma semana eu esteja recuperada inteiramente. Nem acredito! Lembrei que estamos no domingo do Dia das Mães. Para mim toda essa quinzena não teve separação de dias. Foi somente um passar que não passava nunca. Jamais havia tido essa estranha sensação. A doença deixou bem claro que somente existia o presente. Nada mais. Muito esquisito a falta de perspectiva próxima. Um vazio na alma. O cérebro fica dormente. A cada vida perdida um grito de dor e um arrepio medonho ...

Sinto que hoje é o Dia da Mãe Terra, a qual é esquecida diariamente. Somente ela tem braços para acolher tantas irmãs e tantos irmãos que partem para o infinito. O capitalismo arde e nos queima com ele. Não adianta ter dinheiro para levantar os jatinhos, já que as fronteiras estão fechadas para nós. Insistimos na mania de confundir cidadania com consumo. Tenho a esperança de que essa pandemia sirva para mostrar que os seres humanos valem pelo que são e não pelo que podem comprar, consumir.

Ainda hoje a falta do consumo nos exclui sem dó nem piedade. Somos avaliadas pela quantidade de coisas que ostentamos. Quanto mais acumularmos, melhor a nossa avaliação. Ante a obsolescência programada, o consumo há que ser diário para estarmos no topo da futilidade. No contraponto, o respirador mostra bem que muitos não sobreviveriam sem ele. Ficaria tudo igual, não fosse a necropolítica. Precisamos usar os bens a nosso favor. Penso o quanto os profissionais da saúde estejam impactados com as lições diárias que a vida lhes ensina. Para estes os meus aplausos.

Agora é o tempo para ficarmos em casa e liberar as ruas para aqueles que não têm abrigo e para os que precisam transitar por ela para salvar vidas. Então, é tempo para refletir. Refletir na saúde física e emocional. Refletir no consumo zero. Quando estamos com saúde, na maior parte do tempo, a usamos com soberba. O nariz consegue se sobrepor ao crânio. As vezes a força da saúde chega às raias de humilhar o outro que está inerte jogado em um leito necessitando que lhe tragam um copo d'água. Já pensou?! É na hora de muita fragilidade que percebemos a importância da saúde física e emocional.

Ontem assisti uma entrevista com o indígena Ailton Krenak, o qual nos dá banho de civilização. Que homem sábio, crítico e, ao mesmo tempo, delicado. Verifiquei o quanto precisamos rever o nosso modo de tratar um ao outro e à Mãe Terra. Nutro a esperança de que essa Covid-19 sirva para alertar a humanidade que ela deva prosseguir tão-só com o necessário. O extraordinário é demais... reconhecer e respeitar as diversidades é questão de inteligência, sobrevivência...

Segurando a bandeira da esperança vou encerrando essas reflexões convidando a todas, todes e todos a ter mais respeito e atenção com a mãe de todas as mães, quem seja a Mãe Terra. Que discurso lindo, profundo, esse Krenak tem.