terça-feira, 25 de outubro de 2011

DE MESA EM MESA - NOS BARES DA VIDA! UM PÉ NO PRESENTE E OUTRO NO FUTURO!


Cartoon de Ricardo Ferraz. Descrição de Imagem: Em um restaurante, um casal está sentado à mesa. Trata-se de um encontro. O rapaz examina o cardápio. A moça, bem vestida, cadeirante, recebe um agradinho do garçom na cabeça, que a trata como criança e pergunta: “Vai papá, né?” 



 DE MESA EM MESA - NOS BARES DA VIDA!


UM PÉ NO PRESENTE E OUTRO NO FUTURO!

Fui convidada por um jornal, juntamente com um amigo cego (WALDIR LOPES) para uma matéria, sendo o público alvo pessoas que frequentam bares e afins. Os jornalistas quiseram conferir como está a ACESSIBILIDADE nesses locais com os olhos voltados para os jogos internacionais que estão chegando. Senti-me honrada por participar da 2ª edição desse tabloide.
            
No dia 18 de outubro/2011, às 18:00 horas, estávamos entrando no "Bar da Garrafa", localizado na esquina da Rua Men de Sá com Lavradio, no centro do RJ. Hodiernamente essa região transformou-se num ponto de encontro entre pessoas de todas as idades. Certamente, será muito frequentado por ocasião dos vários eventos desportivos que vêm por aí.
            
Legal a ideia de já conferirmos esse aspecto!

- Waldir, coloque a mão no meu ombro e deixemos que Jimmy nos leve. Fique à direita com a sua bengala.
- Tudo bem!
            
Comandei Jimmy para que entrasse. De cara ouvimos voz masculina.
- Aqui não pode entrar cachorro!
- Esse não é cachorro! São meus olhos. Ele entrará por força de lei!
            
E fomos adentrando até que ouvimos nova voz.
- Cachorro não pode entrar!
- Jimmy pode. Por favor, arrume uma mesa bem posicionada para que ninguém pise em Jimmy. Depois de acomodados posso mostrar a legislação, bem como a documentação do guia.
            
Equipe totalmente despreparada para recepcionar o deficiente visual. Não sabiam como fazer. Inseguros, mas atenderam ao pedido. Percebi que não sabiam como nos recepcionar.

- Alguém vá à frente batendo na coxa. Comandarei Jimmy para seguir. Por favor, batam na cadeira que irei sentar. Jimmy a encontrará. Sinto que estão muito agarradas uma nas outras. Antes, acomodem meu amigo.

Então, constatei que estavam em dois garçons e fizeram, exatamente, como solicitado. O astral já era bom e o ritmo era de humildade.

Superado o impacto com Jimmy. O bar ainda estava vazio. Waldir sentou-se de um lado e eu a sua frente. Jimmy ficou super confortável deitado ao lado da minha cadeira.

Percebemos vozes amigas em mesa próxima. Era a Equipe de reportagem e alguns amigos que nos acompanhavam. O combinado foi que pediríamos um chope, uma porção de azeitonas e uma pizza.

Interagimos com os garçons. Perguntei se eles estavam habituados com clientes cegos.
- Não senhora! É a primeira vez que atendemos deficientes visuais.
- Então, nós iremos dando as dicas acerca das nossas necessidades para todos, tudo bem?
- Sim, tudo bem! - Respondeu o garçon.
           
Waldir perguntou pelo cardápio em braile...
E veio a resposta rápida: - Não temos!

Repliquei:
- Ah! Mas precisam providenciar! Penso que no IBC vocês poderão obter informações dessa confecção. Vocês precisam estar preparados para os jogos! O fluxo de pessoas aumentará sensivelmente. Claro que pessoas cegas e com outras deficiências comporão esse público.
            
Waldir pediu um guaraná e eu um suco de laranja. Muito atrapalhados estavam os dois garçons que nos atendiam. Não sabiam como colocar as bebidas para que pegássemos. Notamos um certo nervosismo.

Então, orientei: - Por favor, coloquem  meu copo na minha frente que eu irei procurá-lo. Vocês não devem mudar os objetos de lugar na mesa sem, antes, informar aos cegos. Essa atenção evitará acidentes e também demonstra respeito por nós.

Waldir concordou e desse modo foi feito. Pensei continuar falando com os garçons. Logo notei que falava sozinha. Ambos se retiraram sem nos avisar! O amigo disse que pediria que eles atendessem quando levantássemos o braço. No retorno concordaram de modo bem simpático.

O pratinho de azeitonas fora trazido e depositado na mesa com a observação:
- A azeitona está aqui!
            
Claro que interatuamos de pronto!
- Mas onde é "aqui"? Quando vocês falarem com pessoas cegas hão que ser mais precisos! Dizer para um cego: Aqui, ali, lá, até este lugar, e outras informações vagas de nada adianta. Vocês devem ser certeiros. Digam: Para a direita, para a esquerda, para frente, para trás, um pouco a diagonal, etc...
            
Senti que pessoas ouviram atentamente, até porque fiz questão de falar - não em grito - mas em tom alto, de modo a alcançar um fim pedagógico.

Waldir pediu um pratinho para colocar os caroços. E, ao chegar, tivemos que ratificar tudo quanto já havíamos dito! Perguntamos pelos palitos. Pegaram as nossas nãos para que sentíssemos que estavam numa lateral perto das azeitonas. Então, pedimos para que fossem espetados nos frutos da oliveira. Após passamos as mãos - sobrevoando o local - de maneira a mostrar como os palitos fincados nos davam maior conforto!

Como tinha hora para chegar em casa, já pedimos a pizza cortadinha em pequenos pedaços para facilitar a nossa vida. Até porque só havia "tamanho único"! Logo, ocupava exatamente a circunferência do prato. Sem chance para manobras!
- A pizza chegou. Estou colocando no centro da mesa. Vou colocar os talheres nas mãos de vocês. É assim? - Perguntou o garçon.

Sorrimos e incentivamos:
- Sim, sentiram como não é difícil? É só questão de sensibilidade e bom senso, não é mesmo?

O garçom concordou comigo. Mas, apesar da boa vontade, a pizza fora cortada ao sair do forno. Obviamente, os pedaços - com o puxa, puxa do queijo quente - uniram-se novamente. Fui utilizando os talheres começando pela borda que estava à minha frente. Já Waldir preferiu pedir um prato, para que fossem alguns pedaços destacados colocados. Tudo atendido com certa surpresa!

Ouvimos a voz de um dos repórteres passando por trás de Waldir:
- Um dos dois peça para ir ao banheiro.

Waldir se habilitou prontamente levantando o braço. Num flash estafa um dos garçons.
- Amigo, você pode me dirigir até o banheiro? Colocarei minha mão em seu ombro.
           
Na ausência de Waldir ouvi uma voz perguntando:
- Como vai sua filha?
- Ué! Quem me fala?
- Meu filho estudou junto com a sua um bom tempo. Foi do maternal até... não me lembro.
           
A maior coincidência! Batemos um papo e me vieram a cabeça os horríveis momentos que minha filhota e eu passamos naquela primeira escola por conta da minha cegueira. No ponto mais difícil da vidinha de minha filha fomos violentamente DISCRIMINADAS pelo uso da bengala. O "bullying" praticado pelos alunos e dirigentes fora flagrante. Ninguém via nada! Fomos hostilizados escancaradamente num colégio religioso onde entramos no maternal e, por não nutrirmos o dom para mártires, nos desligamos na 6ª série. Como esses fatos são marcantes! Num instante relembrei e vivi todo um filme! Waldir retornou.

- E aí, como foi Waldir?
- Engraçado! Acho que ele pensou que precisasse fazer mais do que fez comigo! Foi quando disse que dali em diante sabia fazer tudo sozinho!

Gargalhamos um bocado. Waldir pediu a conta. Perguntamos alto e a esmo quem a pagaria!
            
Logo estava na nossa mesa um dos repórteres que passou uma nota de cem reais ao Waldir, pedindo-lhe que desse um jeito de conferir a conta. Em seguida veio o outro para arrematar o prato de azeitonas que estava quase intacto. De fato - a preço d'ouro - jamais poderia retornar à cozinha!

Vida salgada! Seriam verdes ou pretas?

Enquanto degustavam a iguaria sugeri que, na volta do garçom, fossem descritos, item por item, a conta. Assim o fizemos.

- Você pode ler a conta para nós?

Tudo fora lido. R$ 19,00, a porção da azeitona. R$ 38,00, a pizza quatro queijos. R$ 4,50, meu suco de laranja. R$ 3,50, o guaraná do amigo. Waldir segurou o troco e pediu, diante dos repórteres, que o garçom anunciasse o valor de cada cédula, bem como as moedas, o que fora, gentilmente, considerado.

Os jornalistas entrevistaram, ainda na mesa, cada um de nós registrando as respostas num gravador. Após os garçons que nos serviram. O clima foi o melhor possível! Muita informação e solidariedade registradas com muitas fotos.
           
Na saída, pedi ao garçom que me orientasse, espalmando as próprias coxas, quando comandei Jimmy até Waldir. Com suas mãos em meu ombro direito, saímos contentes por ter conscientizado mais algumas pessoas em prol da nossa luta. Ao cruzarmos a saída ouvi do metre:
- Recomendações para sua filha!
- Obrigada! Beijos para seu filhote!
- Voltem sempre!
            
Na calçada novas fotos e considerações finais. Demos a matéria como hiper bem sucedida, muito embora tivéssemos apurado TOTAL falta de ACESSIBILIDADE. Sim. Ao falarmos de ACESSIBILIDADE não nos referimos tão-só a física. Até que essa havia na entrada, mas ausente no banheiro. Falo, outrossim, da ACESSIBILIDADE NA INFORMAÇÃO/COMUNICAÇÃO, bem como a ATITUDINAL. Verdadeiramente pudemos conferir a falta de preparo do estabelecimento no atendimento às PESSOAS COM DEFICIÊNCIA.
            
Porque as autoridades NÃO querem encarar essa realidade? De fato, o pior cego é o que não quer ver! O ELEITO que não fez e nem faz por nós (seus mandantes) não merecem ser reeleitos! Concordam?
            
Nessa hora lembrei-me de um episódio de uma série intitulada "OS MONSTROS", onde o personagem principal - temido por todos - corria num parque público desesperadamente, por considerar que as pessoas corriam ávidas em sua direção! Um corria do outro. Sociedade corre do deficiente que, por seu turno, corre da sociedade! Loucura!
            
Indubitavelmente é o diálogo a única saída para a real implementação da tão sonhada ACESSIBILIDADE. Não adianta querer pegar no tranco!
            
A cultura da hora é a da COOPERAÇÃO. Fora cultura da superficialidade!
            
E aí? Amigos leitores, vamos continuar OMISSOS? Ou vamos agigantar a REDE DA SOLIDARIEDADE?
            
De bar em bar, de mesa em mesa, temos que sensibilizar a "malha" hoteleira e afins para que estejamos preparados para receber o Planeta nos eventos esportivos que vêm por aí. Não acham?
            
QUERO MEU CÉREBRO VERDE!
           
"Sejamos nós a mudança que queremos ver no mundo". (Mahatma Gandhi)

                                   Carinhosamente.
                                   
DEBORAH PRATES (cachogente) e JIMMY PRATES (pessocão)

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

AGIGANTANDO A "REDE DA SOLIDARIEDADE"


"Ralph Peter", obrigada pela força!


"Ralph Peter" é agente literário e apresentador do programa LIVROS EM REVISTA, que vai ao ar todas as quintas-feiras, na TV uol. Na edição de 13/10/2011, tive a honra de vê-lo indicando esse blog como sendo uma boa opção para interação

Pela seriedade do trabalho, bem como pelo comprometimento de Ralph com os assuntos relacionados aos Direitos Humanos é que fiz questão de registrar a minha sincera ALEGRIA ao perceber o forte elo que o une a nossa REDE DA SOLIDARIEDADE, bem como a sua adesão na CULTURA DA COOPERAÇÃO.

Segue abaixo o endereço do programa para que os leitores amigos também possam curtir espaço seleto/cultural. É o link:


Ralph sempre informa que aceita críticas e sugestões. Daí é que registro que as críticas são as melhores possíveis. Como diz o nosso admirado Professor Padilla, não podemos "dar mole" a "CULTURA DA SUPERFICIALIDADE"!

E por esse seu espírito empreendedor/gestor é que deixo-lhe na companhia de Alexandre Graham Bell:

           
"Nunca ande pelo caminho traçado,  pois ele conduz somente até onde os outros foram."

Carinhosamente.

DEBORAH PRATES (cachogente) e JIMMY PRATES (pessocão)

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

DESARMANDO CORAÇÕES

Descrição de Imagens por Rosa Santos : Sobre fundo branco a imagem de dois corações vermelhos um ao lado do outro, uma maior e outro menor, estão no centro de um ringue branco sobre fundo branco.


- Qual é o assunto?
- Alô! Aqui é DEBORAH PRATES do RJ. Com quem falo?

Então interagi com a voz feminina informando que gostaria de um endereço de e-mail de qualquer assessor da presidenta Dilma, a fim de que pudesse enviar-lhe um projeto meu de nome: "TEM VISIBILIDADE? OLHE PARA NÓS"!

A voz disse:
- É aqui mesmo e não preciso dizer meu nome. É pelo site ....

Então, segurando o telefone, pedi auxílio para minha filha:
-Minha filha, anote para sua mãe, por favor!

Foi quando a voz sobressaltada do outro lado, retrucou rispidamente:
- O que! Minha filha? .... está me chamando de minha filha?

 A voz foi tão agressiva ao me interpelar sobre a expressão MINHA FILHA que levei um susto!
 - Sim. Senhora, sou cega e estou com a minha filhota me ajudando nas anotações! Qual o problema?

A voz ficou muda. Aproveitei o silêncio e disse:
- Nossa! Para quem trabalha na Presidência da República a senhora anda muito "ARMADA"!

A voz pausou ligeiramente e prosseguiu dando os dados do site. Fomos anotando. O tom era de superioridade absoluta e, em nenhum momento, percebi um toque de retratação. Ao contrário, me fez lembrar muito as histórias do tempo da ditadura. Sinistro!

Fiquei a pensar o que levaria uma pessoa a ser tão grosseira com quem não conhece. Qual a razão de tanta agressividade e empáfia de quem recepciona o Brasil? E o mundo também! Seria o posto que a voz ocupava? Ou seria mesmo falta de educação? Fato é que as pessoas andam extremamente "armadas" em seus corações.

Noutro dia, passando numa calçada, fui entrelaçando com os demais humanos quando fui, abruptamente, abalroada por outro humano que veio - propositalmente - em meu encontro. Foi ombro com ombro numa violência que cheguei a balançar e inclinar para trás. Daí ouvi:
- Tá cega? Não enxerga não?

Sacudindo a cabeça retornei o rumo, interagindo:
- NÃO! SOU CEGA!

O homem terminou por pedir desculpas. Detalhe importante é que eram 7:00 horas! O dia estava começando!  Mas as pessoas já caminham estressadas, pisando duro, dando de ombros, xingando, amaldiçoando o mundo, enfartando!

Os fones de ouvido, de todos os modelos, estão prensando as orelhas. O trânsito engarrafado castiga motoristas e pedestres. Lá vem os guardas tumultuando, ainda mais, a situação que já é caótica. Os ônibus insistem com seus motores infernais, num ronrom, ronrom, ronrom insuportável! Loucura! Ninguém vê nem ouve nada. Como cega tenho a certeza de que vejo muito mais! Viver numa grande metrópole é exaustivo. O meio-ambiente desfavorece o clima para gentilezas. E aí! O que fazer?

Difícil não nos contaminarmos com os vírus da agressão. Como todos, são mutantes. E a crueza vai de galope em galope aumentando. Onde e quando vamos parar?

Precisamos "DESARMAR" os nossos corações. Necessitamos olhar o mundo e ver as pessoas, os animais, as situações, etc...

No espírito da cultura da REDE DA SOLIDARIEDADE precisamos plagiar a campanha do desarmamento relativa as armas de fogo. Só que, ao invés de recebermos dinheiro pelas armas devolvidas, o próximo nos recompensará com um SORRISO.  Sorrir faz bem para a alma e retarda o envelhecimento pelo exercício facial.

Que tal a ideia?

Carinhosamente.

DEBORAH PRATES (cachogente) e JIMMY PRATES (pessocão)


sexta-feira, 7 de outubro de 2011

PROJETO: "TEM VISIBILIDADE? OLHE PARA NÓS"!



Descrição de imagem: Foto de fundo branco com três armações de óculos redondas, divertidas e sem as lentes, arrumados como um triângulo. Acima, no vértice, uma de cor lilás; embaixo, na base à esquerda a segunda armação de cor vermelha e à direita a terceira armação de cor verde lima. 

A imagem acima foi escolhida para ilustrar a frase: "Se lhe derem uns óculos sem as lentes, cuidado! É armação." Uma alusão aos sites, estabelecimentos, eventos e pessoas que usam as palavras INCLUSÃO e ACESSIBILIDADE, como marketing, sem realmente prezar por isso. Lembre-se: nunca faça nada para PcD (Pessoa com deficiência) sem ouvi-la. 

Esse projeto nasceu pós ida ao Rock in Rio/2011. Tamanha fora a negligência dos Srs. Organizadores relativamente a falta da - tão sonhada - ACESSIBILIDADE, que resolvi interagir com a sociedade. Inteiração essa que só tomará corpo se somada com a vontade de CADA UM LEITOR que, também tenha por meta, um Planeta MELHOR para todos! Eis a força da REDE DA SOLIDARIEDADE!
            
Partindo da minha crônica - "UMMUNDO PIOR PARA TODOS" - registrando a minha passagem pela Cidade do Rock, aliada ao total DEBOCHE dos organizadores, foi que brotou a ideia de envolver a todos que, de alguma forma, tenham VISIBILIDADE para que abracem a nossa luta.

*** CONTEÚDO/PROPOSTA:
            A proposta é bem singela. Não envolve dinheiro/recursos, mas, tão-só, espírito de SOLIDARIEDADE e AMOR AO PRÓXIMO.

 "TEM VISIBILIDADE? OLHE PARA NÓS!

            Apesar de uma farta legislação sobre o assunto, muito pouco temos feito para diminuir as diferenças no que concerne a ACESSIBILIDADE física, de informação/comunicação e atitudinal. Esse desrespeito parece ser CULTURAL! Não é possível que, por exemplo, num evento tão grande, tanto do ângulo estrutural, quanto do comunicacional os Srs. Organizadores não tenham tido a preocupação de contratar uma Equipe com conhecimento na área. Afinal, somos igualmente SERES HUMANOS!
            Abaixo informo aos amigos alguns dos pontos que constatei como DESUMANOS, a fim de que também possam avaliar se tenho razão.

            1 - PORTÃO ESPECIAL - De cara faço meu protesto com relação a existência de um portão especial que atinja o seu objetivo. No site do Rock in Rio havia essa indicação. Daí é que fui, com minha filhota, procurar esse oásis! Loucura total! Absurdo ser o 1º portão destinado ao grande público. Óbvio que se temos deficiência nosso portão deveria vir antes dos outros, não acham justo? andar cerca de + 1 KM até achar o especial e ficarmos quietos é não nos amarmos! Ninguém, absolutamente ninguém, sabia dar informação onde achá-lo. Diziam: DEVE SER LÁ NA FRENTE. Ou: DEBAIXO DAQUELE VIADUTO. Ou: NÃO TENHO A MENOR IDEIA. Fomos caminhando sozinhas porque o fluxo terminara no principal. Sobre os assaltos não precisamos falar agora, já que a mídia foi forte nesse sentido!

            2 - FALTA DE CLAREZA NAS INFORMAÇÕES: O portão especial estava assim no sit: DO PRINCIPAL É O ESPECIAL O ÚLTIMO DO LADO ESQUERDO EXTREMO. Inimaginável entender isso! Total desrespeito! O que significa o último do lado esquerdo extremo???

            3 - RÁDIO E DESRESPEITO - Procurei - com + de 20 prepostos - banheiros e locais destinados aos deficientes e NÃO foram encontrados pelos prepostos. Mesmo com o auxílio de rádio ninguém sabia nada de nada. O pior é que passavam o rádio na nossa frente e diziam: ESPEREM AQUI QUE VIRÁ UM PROMOTOR DO EVENTO BUSCAR VOCÊS. E ficávamos ao Deus dará! Ninguém aparecia. Fomos feitos de tolos inúmeras vezes! Voltaremos a ser os "BOBOS DA CORTE"?

            4 - BANHEIROS QUÍMICOS - Só encontrei UM. Ainda assim foi minha filhota quem avistou e não qualquer preposto que tenha dado informação. O lema era "CADA UM POR SI E DEUS POR TODOS"! Mesmo assim a pia era do lado de fora e tinha um grande degrau que nenhum cadeirante poderia subir. Senti bem a sua altura com a MINHA BENGALA! Enorme!

            5 - ÔNIBUS COM ELEVADOR - Total falta de respeito com os cadeirantes! Eles terem que "fechar" suas "pernas" para colocá-las no bagageiro! E terem que ser carregados para a poltrona do ônibus por estranhos despreparados! Um absurdo! Temos que nos ater que a tecnologia é para o deficiente parte INTEGRANTE de seu corpo. Vale dizer que separar o cadeirante de sua cadeira é total FALTA DE HUMANIDADE. A cadeira de rodas faz parte do deficiente, pelo que não se pode conceber que num evento do porte do ROCK IN RIO não houvesse disponibilidade financeira para ônibus com ELEVADOR! Na verdade as autoridades competentes NÃO fiscalizam o transporte público, ficando com a sociedade essa GRITA!

            6 - ÔNIBUS PARA OS IDOSOS E OUTROS - Também há que ser ressaltado que os ônibus com elevadores não servem apenas para atender os deficientes. Basta consultar as recentes pesquisas para verificar que as pessoas estão vivendo bem mais. Vale dizer, pois, que os IDOSOS estão aumentando e que precisam ter seus direitos respeitados! Encontramos muitos idosos com seus netos e sem respeito! Andar 1,5 KM até o portão principal e mais 1 KM até o nosso especial é um abuso! Também existiram grávidas, pessoas com membros engessados, recém operados que precisariam de elevador no ônibus. Além do que estes teriam que ir até os portões. É o nosso direito de ir e vir com respeito e liberdade!

            7 - RAMPAS INCLINADAS - As rampas, por conta da irregularidade do terreno, não estavam TODAS adequadas para os cadeirantes e outras pessoas. Muitas, pelas quais passei, estavam extremamente inclinadas. Algumas tão íngremes que tive que pedir ombro amigo para me apoiar com temor dos pés deslizarem. Para dar pseudo acesso foram colocadas madeira revestidas com grama artificial numa lambança só! Percorri toda a Cidade do Rock, até porque estava acompanhando adolescentes (filha e amigas). A curiosidade das meninas me fizeram vistoriar "tintim por tintim" daquele gigantesco espaço. Dava para perceber que os encarregados que fizeram os acessos não nutriam o menor conhecimento  da legislação VIGENTE e - escandalosamente - a IGNORARAM com a chancela das autoridades! E nós? Calaremos?

            8 - CONDUÇÃO PARA OS DEFICIENTES - Claro é que teríamos que ter um cuidado especial para chegar ao nosso portão. Pelo menos segurança do evento. Deixar os deficientes caminhando sozinhos numa área irregular e sem segurança é brutal! Fora do contexto e razoabilidade! Sr. ROBERTO MEDINA! Onde esteve o senhor todo o tempo?

            9 - TÁXIS ATÉ O PORTÃO PARA DEFICIENTES - Táxi é transporte para o público e a legislação é clara ao determinar que tem que atender as pessoas em geral. Aristóteles, em tempos remotos, já sugeria que deveríamos tratar os desiguais na medida/proporção de suas desigualdades. Logo, para nós os táxis deveriam ir até o portão especial! Evidente! Muita insensibilidade do nosso Prefeito e dos Srs. Organizadores terem nos exposto ao sabor da sorte! Temos que repensar as URNAS! Reeleger quem NÃO fez por nós é "MERECER O SOFRIMENTO"!

            10 - ACESSIBILIDADE DE INFORMAÇÃO E ATITUDINAL - Se não se preocuparam em colocar a acessibilidade física, deveriam, quando começaram as denúncias, terem os organizadores primado pelas acessibilidades de informação e atitudinal. Ao contrário, os prepostos permaneceram a dizer que DE NADA SABIAM! Como não nos damos o respeito é que empresários, prefeitos e demais semelhantes não nos veem.

            11 - CEGOS "PERDIDOS NO TIROTEIO" - Num mega evento com cem mil pessoas seria IMPOSSÍVEL a locomoção com bengala sem um local marcado. Não havia piso tátil fazendo a marcação dos acessos principais! Um recurso de tão baixo custo teria que compor o ambiente! Inacreditável! Ora, se tínhamos um portão especial é coerente deduzirmos que nos conduziria a algum local especial/acessível! Sabem aquelas escadas que não levam a nenhum lugar? As vezes terminam numa parede!

            12 - SITE INFORMAVA LOCAL PARA CADEIRANTES - Lamentável a incompetência dos Srs. Organizadores. Havia no site indicação de local destinado aos CADEIRANTES. Mas, e os outros segmentos das deficiências? Qual a razão de terem sido EXCLUÍDOS? A denominação justa deveria ser LOCAL PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA e não para os CADEIRANTES! Ora, se havia um portão especial para pessoas com necessidades especiais (deficientes, idosos, gestantes, etc.) deveria, logicamente, ser marcado com todos os recursos de acessibilidade compatíveis com cada necessidade, não acham? Pois é! Mas nada havia e, o que é pior, um bombeiro que me disse estar no local desde as obras nem o local destinado aos cadeirantes conhecia. Chegou a dizer que tal local NÃO EXISTIA FISICAMENTE! Cruel, né?

            Pelo Twitter passei as madrugadas a interagir com cada mensagem do @rockinrio sem sucesso. Num tuite  - parecendo IRONIA - disseram que havia certa camiseta escrita em braile. Já noutro informavam que haviam colocado um telão para a transmissão do evento na Cidade de Deus.

            É nesse clima de absoluto DESCASO que vamos tocando a nossa vidinha. Basta! Não acham?

            Hoje em dia o empresário há que estabelecer a CULTURA DA COOPERAÇÃO. Certamente é a judicialização o pior caminho! Nem é preciso comentar sobre a máquina judiciária! Então, temos que resolver nossas pendengas de forma a fugir do Poder Judiciário. Pensei na REDE DA SOLIDARIEDADE.

            Confabulei com os "meus botões": E se envolvêssemos pessoas com alguma VISIBILIDADE? Por exemplo, artistas, jornalistas, blogueiros, etc.. Esses contatos seriam via Twitter que é bem simples e curto. A ideia é entrarmos nos contatos e solicitarmos que abracem  o projeto "TEM VISIBILIDADE? OLHE PARA NÓS"!

            A rede da solidariedade consiste numa simples pergunta: NESSE LOCAL HÁ ACESSIBILIDADE? Eis a simples indagação que os detentores de alguma visibilidade hão que fazer aos empresários que tiverem contato. Por ilustração, lembro dos cantores e atores/artistas que assinam contrato para eventos/shows/peças. Ao terem contato com quem os esteja contratando farão a pergunta: NESSE LOCAL HÁ ACESSIBILIDADE?

            Só isso! De longe pediríamos que  - não havendo acessibilidade - deixem de contratar. Claro que não! Apenas com a pergunta a semente/reflexão já estaria semeada. Simples assim. Ser mais realista que o rei é burrice!

            Pós reflexão atos singelos começarão. Uma rampa, um cardápio em braille, um banheiro adaptado, LIBRAS, etc...

            Essa cultura do descumprimento das leis só irá melhorar com esses toques. Nesse terceiro milênio o empresário que não desenvolver o seu ponto de DEUS no cérebro estará fadado ao insucesso. Hão que desenvolver seus cocientes espirituais, de modo a propiciar aos empregados, bem como a todos que com eles contratem um maior bem-estar. Esse conforto não pode somente ser voltado para as florestas, redução dos gases nocivos, término das queimadas, etc.. Temos, sim, que reflorestar os nossos cérebros que, na grande maioria, estão áridos e apresentando sérias rachaduras. É o solo que tem que ser tratado! Daí, sim, começaremos a nos amar. Em consequência, amar o outro. Por fim, amar o Planeta. É o homem seu pior predador.

            Do jeito "meio que não quer nada", construiremos o todo, pelo que CONVIDO aos leitores amigos que abracem esse projeto "TEM VISIBILIDADE? OLHE PARA NÓS!

Carinhosamente.

DEBORAH PRATES (cachogente) e JIMMY PRATES (pessocão)

            "SOMOS TODOS ANJOS DE UMA ASA SÓ. PRECISAMOS NOS ABRAÇAR PARA PODER VOAR". (autor desconhecido)

domingo, 2 de outubro de 2011

POR UM MUNDO “PIOR” PARA TODOS!

Hoje se dará o encerramento do Rock in Rio... Abaixo, o relato de um lado do evento que não foi visto, pensado, projetado... E o lado inclusivo de um evento é parte fundamental para que uma sociedade desfrute de todas as oportunidades com igualdade. Acessibilidade no lazer e na cultura sim! Após o Rock in Rio, outros grandes eventos virão para a cidade maravilhosa... E a Copa do Mundo em 2014, tratará a PcD (Pessoa com deficiência) com respeito? O Projeto de acessibilidade será cumprido? Sairá do papel ou, será exatamente como foi o Rock in Rio? Segue abaixo minha aventura na cidade do rock.


Descrição de Imagem: Foto escura. Ao fundo imagem bem desfocada do público. Em primeiro plano a mão com o símbolo usado pelos roqueiros, punho fechado e os dedos anelar e mindinho erguidos. Ao lado, em letras brancas a frase "eu vou". A letra "o" da referida frase é um mundo azul estilizado com uma guitarra ao centro e sobre ele  está escrito em letras vermelhas "rock in rio". Logo abaixo desta que é a frase e símbolo do Rock in Rio, em letras grandes e vermelhas como um carimbo, nosso blog escreveu "eu fui". Este "Eu Fui" é marcante pois representa vencer todas as dificuldades em relação a acessibilidade para um único objetivo: curtir o evento com outras milhares de pessoas."


Coração batendo a mil na manhã do dia 23/9, ainda mais com a previsão de tempo chuvoso no 1º dia do ROCK IN RIO. Uma honra curtir com minha filhota de 17 anos esse momento que, há tempos atrás, tinha experimentado. Como cega tratei logo de conferir a acessibilidade para que tudo continuasse encantador. Então, foi que tremi nas bases com o que percebi que iríamos enfrentar. O clima mudou para o de enduro. Com base na nossa legislação – ante a dificuldade/irregularidade do terreno – foi que tentamos com vários taxistas chegar ao portão do evento. Os guardas locais disseram NÃO em quaisquer hipóteses. Desumano, já que o terreno é totalmente irregular para qualquer deficiência. Fingem desconhecer os Organizadores a lição do filósofo Aristóteles que sugere sejam tratados os desiguais na medida de suas desigualdades. Até o 1º portão tivemos que andar 1,5 km. Sozinha não conseguiria. Pesquisamos no site e ficamos felizes com a existência de um portão especial. Remetia ao último portão do lado esquerdo extremo, tomando-se a entrada principal da Cidade do Rock. Como saber qual o último portão? Um cego jamais o encontraria! Ao encontrar o portão principal, perguntamos pelo especial. Claro que eu poderia entrar pelo principal, mas quis o meu! Nem os seguranças – com rádio – souberam informar. Diziam: “ACHO que fica lá na frente! Vocês vão andando que, certamente, é para lá”! Perguntei se havia alguém para caminhar com o deficiente até o local. Óbvio que não! O fluxo das pessoas terminou no principal, onde todos entraram. Daí por diante fomos na sorte. Loucura! Quase desistindo, um novo preposto disse ser “PASSANDO AQUELE VIADUTO”! Que alegria! Ao entregarmos os ingressos indagamos pelo banheiro mais próximo. Ouvimos: “NEM IMAGINO! ACHO QUE É ALI DEBAIXO DA RODA GIGANTE”! Minha filha foi quem avistou um químico. O local para lavar as mãos era fora e com um bom degrau. Naquela pia não havia rampa. Talvez em outras! Ainda com fôlego tentamos chegar ao local destinado aos CADEIRANTES, dando direito a um acompanhante. Absurdo! Será que os outros segmentos não tinham igual direito?
Como cega também quis achar esse paraíso! Mais de dez prepostos não souberam encontrar o setor. Até nos estandes perguntamos e as respostas pareciam combinadas: “VAMOS CHAMAR UM PROMOTOR DO EVENTO”. Desistíamos de esperar. E a festa rolava. Novamente tivemos que vestir a fantasia de “BOBOS DA CORTE”! Um BOMBEIRO informou que estava no evento desde a sua CONSTRUÇÃO e desconhecia esses locais. Aduziu que vários cadeirantes e deficientes já haviam lhe feito a mesma pergunta. Constrangido, disse que FISICAMENTE esses locais não existiam. MUITO GRAVE A INFORMAÇÃO! As toneladas de som ecoavam. A galera cantava!  Para minimizar os acidentes geográficos do terreno, rampas revestidas com grama artificial foram feitas sem o menor critério de acessibilidade. Sim. De qualquer maneira! “EEE, VIDA DE GADO… POVO MARCADO. POVO FELIZ”! Algumas permitiam acesso aos cadeirantes, outras nem mesmo para os cegos com suas bengalas! Propaganda feia e enganosa dos DRS. Organizadores! Constatamos total falta de acessibilidade física, de informação/comunicação e atitudinal. Falso é o slogan: “POR UM MUNDO MELHOR PARA TODOS”. Ao invés de alardearem plantio de árvores, deveriam os organizadores REFLORESTAR OS PRÓPRIOS CÉREBROS! Dever-se-ia investir na “SUSTENTABILIDADE HUMANA”! Bem, no tom: “ME ENGANA QUE EU GOSTO”, mais consistente para o Planeta seria repetirmos o antônimo da proposta, qual seja: POR UM MUNDO “PIOR” PARA TODOS! QUERO MEU CÉREBRO VERDE!
Carinhosamente,
DEBORAH PRATES – (Advogada, usuária de cão guia, Delegada da CDPD/OAB/RJ)
No twitter: @deborah_jimmy
*** REFLITAMOS SOBRE UM PENSAMENTO DE AUTOR DESCONHECIDO: “SOMOS TODOS ANJOS DE UMA ASA SÓ. PRECISAMOS NOS ABRAÇAR PARA PODER VOAR”!