sábado, 30 de dezembro de 2017

Por mais sororidade e menos preconceito vai o evento "Lesbianidades e Potências"

A amiga Helena Niemeyer Teixeira II nos presenteou com o vídeo do Seminário Lesbianidades e Potências, realizada no auditório da CAARJ, no dia 23 de novembro de 2017. Sob a minha coordenação e da querida Maria Duda.

Foi o meu primeiro evento independente e de resistência a todo tipo de opressão imposta aos diversos grupos de mulheres. Foi o evento que mais me emocionou pela diversidade de mulheres que consegui reunir em uma mesma mesa.

O preconceito/opressão que as mulheres lésbicas sofrem é inacreditável! Enquanto sociedade precisamos sair do nosso lugar de fala para ouvir a outra. A orientação sexual e a identidade de gênero de cada ser humano não podem ser usados como empecilhos/limitadores da inclusão dessas pessoas no mundo.

Por mais sororidade e solidariedade, e menos hipocrisia. Convido a todas, todes e todos para assistirem o seminário, o qual está dividido em 8 partes, cada uma com a fala de uma palestrante, de modo que cada qual pode assistir aquela que quiser.

Com todo o meu carinho, agradeço o apoio do Movimento da Mulher Advogada RJ, que vem sendo parceiro de todos os eventos que coordeno. Para essas incríveis mulheres, lideradas pela querida Naide Marinho, rendo as minhas sinceras homenagens. Agradeço, finalmente, ao presidente da CAARJ - o advogado Marcello Oliveira - por acreditar nas causas sociais de forma a disponibilizar o espaço para que esses eventos aconteçam. 



Deborah Prates


Luciane Cardoso


Priscila, em substituição da palestrante Camila Marchi


Luísa Escher Furtado


Camila Marins

Lygia Neves


Alice Pereira

Virginia Figueiredo









Descrição do cartaz

O fundo é roxo. Ocupando quase a totalidade da imagem temos dois espelhos de Vênus entrelaçados, que consiste na representação simbólica das lésbicas. O espelho de Vênus é atualmente usado pela biologia como símbolo do feminino e sua duplicata representa o grupo das lésbicas. Sua identificação visual consiste num aro, aonde, na parte inferior, tem-se uma cruz.

O símbolo remete à mitologia grega, o qual era usado como espelho da deusa Afrodite, chamada de Vênus pelos romanos. Afrodite era a deusa dos valores identificados como pertencentes à mulher naquela sociedade, tais como o amor, a beleza e a sexualidade.

No cartaz, ambos os espelhos estão levemente inclinados em um tom de lilás, que se contrapõe ao roxo mais escuro do fundo. Na parte de cima do cartaz temos o título, qual seja “Seminário (em rosa) Lesbianidades e Potências (em amarelo)”. A seguir, temos a lista das palestrantes, que está localizado, na cor branca, dentro do aro da esquerda.


Palestrantes:

Luísa Escher Furtado: psicóloga clínica e membro da Coletiva de Lésbicas Sapa Roxa

Camila Marins: jornalista, ativista lésbica da Coletiva Sapa Roxa e poeta

Lygia Neves: pedagoga e vice-coordenadora do Programa Política para Mulheres Surdas da Feneis

Virginia Figueiredo: membra da Liga Brasileira de Lésbicas

Camila Marchi: advogada

Luciane Cardoso: advogada

Deborah Prates: advogada


No aro da direita, ainda em branco, temos escrito:

Coordenação geral: Deborah Prates
Subcoordenação: Maria Euarda Aguiar


Abaixo de ambos os aros, entre ambas as cruzes, temos as informações do evento:

Data: 23 de novembro de 2017. Quinta-feira, às 17h
Local: Plenário da CAARJ. Avenida Marechal Câmara 210, 6º andar, Centro, Rio de Janeiro


Por fim, abaixo de tudo há uma faixa branca com as logos dos grupos que estão apoiando o evento, quais sejam:

Coletivo Pela Vidda - o grupo pela valorização, integração e dignidade do doente de AIDIS

ONG Viver Bem - bem estar da mulher - inclusão social

AMU BRASIL - agenda das mulheres brasileiras
Movimento da Mulher Advogada


sábado, 23 de dezembro de 2017

Fotos do 5º evento da Comissão da Mulher do IAB

Evento realizado pela Comissão da Mulher do IAB, com apoio do IAB Nacional e do Movimento da Mulher Advogada, no auditório da CAARJ, no dia 05/12/2017. 

A advogada Maíra Fernandes esteve ao meu lado na coordenação e administração do evento; para ela as minhas homenagens e sinceros agradecimentos. 

A eterna discussão foi inflamada em decorrência da PEC 181/2015. 

Finalizo agradecendo à CAARJ por ter cedido o espaço, o que o faço na pessoa do seu presidente, Dr. Marcello Oliveira. Também não posso deixar de render homenagens à Dra. Naide Marinho, que representa o Movimento ds Mulher Advogada, pelo apoio a todos os eventos da Comissão da Mulher do IAB. 

Como gritamos nas ruas: o corpo é nosso... é pela vida das mulheres...




Deborah Prates - advogada coordenadora, feminista, presidente da Comissão da Mulher do IAB, integrante do movimento feminista #partidA RJ e do Movimento da Mulher Advogada do RJ. É um trabalho árduo presidir uma mesa com um tema tão relevante para todas nós mulheres 






Luciane Cardoso - advogada, membra da Comissão da Mulher do IAB e colaboradora do evento.






Mesa composta por todas as palestrantes. Da esquerda para a direita: Leila Adesse, Leila Linhares, Deborah Prates, Luciane Cardoso e Luciana Boiteux. Leila Linhares utiliza o microfone e todas as demais olham para ela.






Leila Adesse - Médica sanitarista com doutorado em Saúde da Mulher, Criança e Adolescente na Fundação Oswaldo Cruz, diretora da Ong Aões Afirmativas em Direito e Saúde (AADS), integrante do Grupo de Estudos sobre Aborto (GEA).






Leila Linhares Barsted - advogada, feminista, coordenadora executiva da Cepla e membro do Comitê de Peritas do Comitê da OEA para monitorar a implementação da Convenção de Belém do Pará.






Luciana Boiteux - professora associada de Direito Penal da UFRJ e integrante do movimento feminista#partidA RJ.






Mesa composta por todas as palestrantes. Da esquerda para a direita: Leila Adesse, Leila Linhares, Deborah Prates, Luciane Cardoso e Luciana Boiteux. Luciana Boiteux utiliza o microfone e todas as demais olham para ela.






Mesa composta por todas as palestrantes. Da esquerda para a direita: Leila Adesse, Leila Linhares, Deborah Prates, Luciane Cardoso e Luciana Boiteux. Leila Linhares utiliza o microfone e todas as demais olham para ela. Foto tirada de longe, com pedaço da plateia em primeiro plano.





Plateia assistindo à palestra.

Boas Festas 2017/2018

A todas as amigas e amigos que me acompanharam durante esse ano deixo aqui os meus votos de boas festas. Que os sentimentos da sororidade + fraternidade resultem em muita solidariedade para que consigamos enfrentar 2018.

domingo, 10 de dezembro de 2017

Dia Internacional da Conscientização dos Direitos Humanos 2017

10 DE DEZEMBRO DE 2017

DIA INTERNACIONAL DA CONSCIENTIZAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS


Neste domingo encerra-se - simbolicamente - o período da luta pela não violência contra as mulheres, iniciado em 25/11.

Então, como mulher com deficiência, a sociedade me impõe diversas opressões, com as quais JAMAIS me acostumarei. Por isso é que repito: uma ativista não desiste. RESISTE!!!!

É o que estou fazendo agora de forma pacífica e democrática. Estou dizendo à sociedade e aos gestores que cumpram os pactos internacionais sobre Direitos Humanos. Destaco, para o momento, a DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS, adotada e proclamada pela Resolução 217 A (III) da Assembléia Geral das Nações Unidas em 10 de dezembro de 1948.

Quero, agora, enfatizar parte de seu Preâmbulo:

"Considerando que o reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da família humana e de seus direitos iguais e inalienáveis é o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo, Considerando que os povos das Nações Unidas reafirmaram, na Carta da ONU, sua fé nos direitos humanos fundamentais, na dignidade e no valor do ser humano e na igualdade de direitos entre homens e mulheres, e que decidiram promover o progresso social e melhores condições de vida em uma liberdade mais ampla,"

Assim, deixo o texto acima para reflexão de todas, todes e todos.

Verdadeiramente, todos os dias são dias de respeito a dignidade da pessoa humana e de respeito a igualdade de direito entre os gêneros...

Malhar o cérebro é um excelente exercício para a ressignificação dos ultrapassados conceitos e preconceitos.

É isso. Bom domingo!

sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

Da violência sexual contra mulheres com deficiência: a invisibilidade social (parte 2)

Dividindo a alegria e honra de ter tido o meu artigo "Da violência sexual contra mulheres com deficiência" publicado em quatro partes no Justificando/Carta Capital. Aqui tenho que comentar a minha admiração por essa equipe que tem total apego ao social. Em uma época em que o Brasil está absolutamente focado no capital, estando as causas sociais relegadas ao último plano, sinto-me acolhida/amparada em ter um espaço onde podemos discutir valores humanos, éticos, morais... Desejo a todas, todos e todes boa leitura e boas reflexões. Sinto-me entristecida de ter que sempre lembrar à humanidade que ela deriva do humano. Fiquem atentos para as próximas postagens. Obrigada!


PARTE 02
Quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

Da violência sexual contra mulheres com deficiência: a invisibilidade social



O Brasil é Estado Parte do Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional – aprovado por meio do decreto 4.388, de 25 de setembro de 2002 – no qual são considerados crimes da Competência desse Tribunal:

“Artigo 7º – Crimes contra a Humanidade. 1. Para os efeitos do presente Estatuto, entende-se por “crime contra a humanidade”, qualquer um dos atos seguintes, quando cometido no quadro de um ataque, generalizado ou sistemático, contra qualquer população civil, havendo conhecimento desse ataque: (…)

Agressão sexual, escravatura sexual, prostituição forçada, gravidez forçada, esterilização forçada ou qualquer outra forma de violência no campo sexual de gravidade comparável;”

De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), a violência sexual é um problema de saúde pública de caráter planetário.

Pela cultura patriarcal afirma-se, com segurança, que o homem – simbolicamente – tem peso maior do que a mulher. É, por isso, o dominador. Então, a questão de violência sexual está diretamente relacionada com o gênero. Esse é um problema geral, global e que, a cada dia, vem tomando corpo face as pautas feministas. A mulher sem deficiência vem resistindo às opressões e se empoderando rumo a igualdade de gênero.

Pesquisas apontam que a violência sexual acarreta efeitos devastadores nas mulheres, tanto sob a ótica do físico, quanto do psicológico. São sequelas que acompanham as vítimas até o final de suas vidas.

Salta aos olhos que as mulheres com deficiência ainda estão em fase gestacional no que se refere a igualdade de condições. Querem e precisam nascer para os olhos da sociedade. Certo é que a pior cegueira é a voluntária, opcional. Para que esse fenômeno bom aconteça é essencial que esse seguimento seja enxergado. Somente visto é que será conhecido e estudado.

As pesquisas bibliográficas em quase nada contribuem, vez que o conhecimento real sobre a verdadeira extensão dos problemas dessa população é dificultado pela ausência de dados. Vale dizer que o desinteresse da sociedade é o causador desse desconhecimento.

O Relatório Mundial sobre a Prevenção da Violência 2014 da OMS, traduzido para o português pelo Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo, em 2015, revela as formas de violência contra mulheres e meninas no planeta, bem como os necessários procedimentos para a prevenção e redução dessa violência até 2030.

O documento acima ignorou o grupo de mulheres com deficiência. Tal constatação é muito grave, já que prova a invisibilidade desse grupo de mulheres, deixando-o muito mais vulneráveis até 2030. Eis um exemplo, significativo, que ratifica o fenômeno da invisibilidade social imposto pela sociedade contra as mulheres com deficiência.

As suas vozes são sempre silenciadas, anuladas pelo peso das múltiplas opressões que sofrem. Esse quadro tem que mudar!
Próximo do Dia Internacional da Luta das Pessoas com Deficiência, as entidades costumam fazer eventos – pontuais – sobre o tema em foco. Por ilustração, a ONU Mulheres Brasil faz, habitualmente, chamado público em defesa dos direitos das mulheres com deficiência. Contudo, no dia a dia o assunto cai no vazio.

A autora frequenta, de insistente que é, alguns coletivos feministas, já que o melhor método para se fazer lembrar é se fazer presente nesses encontros. Inicialmente costuma ser muito bem recepcionada. Todavia, esse bom acolhimento termina no momento em que discursa sobre a questão das acessibilidades, necessárias para o acolhimento desse grupo de mulheres.

Então, passa a causar transtorno, incômodo. Parece que as suas iguais sem deficiência, conforme vão ouvindo a manifestação, vão ficando entorpecidas, anestesiadas, e, ao retornarem do coma, não se lembram de nada. A partida é sempre do zero.


A coisificação do corpo da mulher 

No decorrer do processo civilizatório a mulher sempre fora desvalorizada e, em consequência, tida como um objeto para a satisfação dos interesses dos homens.

No século XXI, apesar da consciência da objetificação do corpo da mulher, esse olhar permanece. A prova disso está nas machistas propagandas de cervejas, cosméticos, automóveis, perfumes, etc. Os profissionais desse setor insistem no ultrapassado raciocínio de que erotizando o produto os homens os consumam mais e mais. Nessas divulgações apresentam o corpo da mulher como se fosse um objeto sexual.

Verdadeiramente a ideia é levar os homens a acreditar que se consumirem tais produtos atrairão mais mulheres. Então, todos os caminhos levam a rotina – naturalizada – da prática de crimes sexuais.

A autora, no último novembro, compareceu a um evento produzido pela ABRH (Associação Brasileira de Recursos Humanos) no RJ, cuja chamada era a discussão do assédio em todas as suas vertentes. Vários profissionais renomados fizeram uso do microfone, sendo que nas falas não identificou qualquer referência as mulheres com deficiência.

Os representantes do marketing estavam presentes e combateram essa forma desumana de propaganda. Apresentaram várias boas ideias. Porém, em nenhuma encontrava-se a mulher com deficiência. A autora era a única mulher com deficiência presente.

No uso democrático do microfone fez essa observação. Apenas uma palestrante pediu desculpas pela falha e agradeceu a observação. O anfitrião sustentou que haveria, em futuro próximo, um evento exclusivo para o seguimento das pessoas com deficiência, pelo que não fora pertinente/adequado a manifestação da autora naquele momento.

Evidenciada, com essa observação, a ideia, errada, do gaveteiro para guardar os seres humanos em grupos, valendo elucidar, em gavetas. Clara ficou a intenção da sociedade em manter as pessoas com deficiência apartadas, excluídas.

Na réplica a signatária disse que o evento somente seria inclusivo se todos os grupos de mulheres estivessem ali representados, razão pela qual era inconcebível não ter sido incluída a mulher com deficiência na exibição de sugestões salutares.

Diante do auditório lotado, aduziu que os publicitários deveriam combater o padrão de normalidade dos corpos femininos e criticou a fôrma da indústria da moda imposta pelo capitalismo machista.
Com mais esta ilustração, ficou incontroversa a invisibilidade da mulher com deficiência pela razão, simbólica, de que o seu valor social é menor do que aquele atribuído à mulher sem deficiência.

Cristalino, pois, que a mulher sem deficiência está avançando na luta pela igualdade entre os gêneros, enquanto que a sua igual com deficiência é considerada “quase alguém”, merecendo ser acondicionada em gaveta própria, isto em novembro de 2017. Inenarrável violência.


Deborah Prates é advogada, feminista, membra efetiva do Instituto dos Advogados Brasileiros (IAB), presidente da Comissão da Mulher do IAB e membra da Comissão de Direitos Humanos do IAB. Integra os coletivos feministas PartidA e Movimento da Mulher Advogada do RJ. Foi a primeira advogada com deficiência a ingressar nos quadros do IAB em 174 anos de existência.


Matéria publicada em:

quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

Da violência sexual contra mulheres com deficiência: a invisibilidade (parte 01)

Primeira parte da palestra que faria no Senado hoje. Está dividida em quatro partes, as quais sairão sucessivamente. Não consegui embarcar devido a um erro burocrático. Mas a palestra seguiu para o e-mail da Senadora Vanessa Grazziotin. A assessoria me comunicou que todos fizeram uma manifestação sobre a minha ausência... Coisas da vida. Para a minha alegria, os artigos estão sendo publicados pelo Justificando/Carta Capital.



Quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

Da violência sexual contra mulheres com deficiência: a invisibilidade



Sobre quem escreve

A autora passou a se interessar pelo feminismo (movimento de transformação social) faz cerca de 11 anos, a partir das opressões, injustiças, que passou a viver após a cegueira.

Percebeu que, além da opressão que experimentava decorrente de gênero, existia outra, aquela decorrente da deficiência. Percebeu-se invisível diante dos olhos preconceituosos de uma sociedade capitalista, machista e racista.

Diante desses fatos, tornou-se feminista, no ponto de vista da interseccionalidade. Esta nos remete a um conceito em construção, pelo que, como mulher com deficiência, encontrou abrigo, apoio, para prosseguir na existência.

Entendeu que a mulher, exercendo preponderantemente o papel de cuidadora dos filhos/família, teria o poder de educar pessoas melhores no que diz respeito ao quesito igualdade, vez que esta se inicia no seio familiar.

As crianças, à vista disso, quando encontrassem na escola coleguinhas com deficiência não enxergariam neles diferenças por conta, tão-só, do estereótipo, tal qual acontece em 2017.

Dessa forma, não há a menor dúvida do quanto o feminismo agrega com a causa da pessoa com deficiência. Essa afirmação pode ser conferida no belíssimo texto intitulado “Deficiência, direitos humanos e justiça” de Débora Diniz, Lívia Barbosa e Wederson Rufino dos Santos, interessando para o momento o trecho a seguir transcrito:

“O tema da igualdade de gênero é um plano de fundo na Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, desde o preâmbulo até as seções específicas sobre a proteção às meninas e mulheres com deficiência e o papel das famílias das pessoas com deficiência (ONU, 2006a).”

Na sua vivência certificou-se que o ser que habita um corpo que foge aos padrões de “normalidade” imposto pela indústria da moda está fora do ângulo de visão da coletividade. Está fora do mundo! Ao longo deste trabalho vem apresentar sugestões de intervenções que respeitem os direitos humanos, fundamentais, dessas mulheres. Para tanto será analisado o conjunto de circunstâncias da realidade desse grupo populacional.


Quem não é visto, não é lembrado

Antes de enfrentar o tema, faz-se necessário tecer algumas abordagens acerca da violência, opressão, que agasalha o contexto das pessoas com deficiência em geral. Isto porque as opressões se somam até chegar a sexual.

Sem dúvida é a invisibilidade social o primeiro sintoma do preconceito decorrente da deficiência. No balcão da vida a autora experimentou seus dois lados, pelo que pode afirmar que enquanto vidente era enxergada pela coletividade. Após a cegueira, notou-se invisível, despercebida. Quis, então, conhecer a razão desse fenômeno e passou a pesquisar, tanto nos livros, quanto na prática, sobre o assunto. Ficou estarrecida com o que encontrou.

Releu a obra O Corcunda de Notre-Dame, de Victor Hugo, e a tomou como ponto de partida até os dias atuais. A história dá conta da discussão do tema da deficiência na Idade Média. A vida de Quasímodo, personagem externamente disforme e grotesco, mas também terno, ingênuo e apaixonado, passada em Paris, no Século XV, mostrou ao homem cristão que nem tudo na criação é humanamente belo, que o feio e o disforme convivem com o gracioso, que o grotesco é o reverso do sublime.

Quasímodo é o exemplo de como a pessoa com deficiência era concebida e tratada na Idade Média. O próprio autor, ao descrevê-lo, o fez com os seguintes atributos:

“Batizou seu filho adotivo, e o chamou Quasímodo, fosse por querer assinalar assim o dia em que o encontrara, fosse por querer caracterizar por meio daquele nome até que ponto a pobre criaturinha era incompleta e mal desabrochada. Com efeito, Quasímodo, zarolho, corcunda, torto, não deixava de ser um quase alguém.” – grifo meu – (HUGO, 1973, p. 120).

No dia 3 de dezembro de 2017 – Dia Internacional da Luta das Pessoas com Deficiência – 1/4 da população brasileira (último censo demográfico do IBGE) ainda é tratado como “quase alguém”.

A sociedade é, absurdamente, insensível em relação aos interesses desse grupo de humanos. Prefere dar-lhes assistência, auxílio, benefícios, olhares caritativos, ao invés de promover a conscientização, de sorte a mudar a ordem social e política que as oprime.

Patente, face a essas breves considerações, que esse olhar de piedade, patriarcal, configura a basilar violência, vez impedir o desenvolvimento humano destas pessoas.

Ao constatar a deficiência, a coletividade cobre os ombros da pessoa com a impactante capa da invisibilidade social.

Tudo mudou na vida da autora a partir do marco da cegueira em ambos os olhos. De pronto mudou a forma com que era recepcionada. Antes era tratada por Dra. Deborah Prates, após a deficiência passou a ser nomeada de advogada cega. Perdeu o nome. Passou a ser não vista. Mas como, se era o mesmo ser, a mesma essência?

O uso da bengala fora o suficiente para que a vizinhança a julgasse “quase alguém”. Depois, por questão pessoal, conquistou um cão-guia. Por isto, passou a ser chamada: a mulher do cachorro. Em um momento de total vulnerabilidade conscientizou-se que o ser que habitasse um corpo que não mais se encaixasse na fôrma da indústria da moda estaria banido da vida.

A sociedade enxerga apenas a deficiência e não o ser. Vê-se, pois, tão-só, a bengala, o cão-guia, a cadeira de rodas, a muleta, etc.

Quando nos dirige a palavra o faz em tom de piedade e em tom de diminuição. Um cadeirante adulto é cumprimentado com um afago na cabeça. Se for perto do horário de refeição, por ilustração, lhe é perguntado: “Vai papá, ou já papou?” Desta maneira, a pessoa com deficiência é infantilizada para todos os efeitos sociais e legais. É que para elas a magnífica legislação pertinente não lhes é aplicada por ainda não serem alguém.

Pesquisando a história, verificou-se que a segregação social das pessoas em classes, grupos, é mais antiga que o capitalismo. No entanto, este a perpetua de modo natural. É essa naturalização da violência/ opressão que precisa ser desfeita, desconstruída, com urgência. Esse é o intuito do presente trabalho.

Nessa premente desconstrução é que tem lugar os exercícios de acessibilidade atitudinal. Mudar hábitos e comportamentos relativamente as pessoas com deficiência é a saída para um Brasil mais igual. Educar é preciso.

Viver é ter a oportunidade de experimentar a condição humana. A sociedade, com a opressão imposta às pessoas com deficiência, está subtraindo o tempo de vida dessa significativa parcela da população.


Do valor simbólico da mulher com deficiência 

Vale registrar que o valor simbólico da mulher com deficiência é extremamente baixo na “bolsa de valores humanos”.

No texto citado na primeira parte deste trabalho (Deficiência, direitos humanos e justiça) destaca-se outro trecho:

“Mas esse silêncio foi desafiado com a entrada de outras perspectivas analíticas ao modelo social, em especial com o feminismo. Não por coincidência, o modelo social da deficiência teve início com homens adultos, brancos e portadores de lesão medular (DINIZ, 2007, p. 60), um grupo de pessoas para quem as barreiras sociais seriam essencialmente físicas e mensuráveis. A inclusão social dessas pessoas não subverteria a ordem social, pois, no caso deles, o simulacro da normalidade era eficiente para demonstrar o sucesso da inclusão. Ainda hoje, os sinais de trânsito ou as representações públicas da deficiência indicam um cadeirante como ícone.” – grifos meus – (DINIZ, BARBOSA, SANTOS, 2009, pp. 71 e 72).

Vê-se, portanto, que a figura do homem representa a deficiência. Hodiernamente, as placas indicativas já estão mudando. Porém, o conceito do homem como representante da espécie humana ainda é patente na nossa sociedade.

Presentemente a nossa denominação taxonômica é Homo sapiens. É o nome dado à espécie dos seres humanos. A expressão (latim) significa: o “homem sábio”.

Ora, essa reprodução perpetua o sistema patriarcal, bem como o machismo. Não faz sentido generalizarmos a espécie nos homens, vez que existem as mulheres. Óbvio que sem elas o mundo não existiria. Então, são e sempre foram as mulheres fundamentais para a representação da espécie humana, tanto quanto os homens, ainda que limitadas por eles desde sempre, em decorrência da cultura.

Logo, usarmos “homem”, no sentido lato senso não é justo para com as mulheres, as quais também compõe a história da civilização. Desse modo, em 2017 o homem não pode mais ser reconhecido como o ser humano padrão.

Melhor seria se a espécie humana fosse representada pela expressão: SER HUMANO.

Face ao exposto, fica nítido – simbolicamente – que o homem sem deficiência vale mais que a mulher sem deficiência e que ambos, conjuntamente, têm peso maior que o homem com deficiência. Computando-se as três figuras nesse contexto simbólico, conclui-se que são mais valiosas que a mulher com deficiência. Estas não são visíveis, nem mesmo, por suas iguais sem deficiência. Tanto que não são chamadas para as rodas de conversa feministas.
Com essa análise simbólica fica lógico afirmar que as mulheres com deficiência estão bem mais vulneráveis à prática dos crimes sexuais que as suas iguais sem deficiência, tanto nos espaços privados (lar), quanto nos públicos (ruas), como se verá no curso dessa apresentação.



Deborah Prates é advogada, feminista, membra efetiva do Instituto dos Advogados Brasileiros (IAB), presidente da Comissão da Mulher do IAB e membra da Comissão de Direitos Humanos do IAB. Integra os coletivos feministas PartidA e Movimento da Mulher Advogada do RJ. Foi a primeira advogada com deficiência a ingressar nos quadros do IAB em 174 anos de existência.


Reportagem disponível em: