"FELIZ ANO NOVO"
PURA
EMOÇÃO!
-
Inês! É Deborah Prates, estou ligando para confirmar nossa presença na lista do
Teatro dos Sentidos. Anote meu nome e o da minha filhota. Obrigada.
-
Ah! Deborah, que bom! Estou marcando com o Grupo às 19:30 horas, na porta do
teatro. Fica no Planetário da Gávea. Legal se todos estiverem no horário
combinado.
A
campainha soou. Fui correndo abrir ante o avançado da hora. Era Bel que chegava
do teatro que fora com o pai.
-
Filha! Graças! Tudo bem? Já estou quase pronta. Você aguenta a terceira jornada?
-
Ai! Cansada, mas aguento. Foi tudo bem, tanto nas compras, quanto no Municipal.
São 18:30 horas. A que horas temos que estar no Planetário?
-
Pois é! Marquei com o táxi às 18:45 horas. Não podemos atrasar. Vamos dar uma
corrida!
Fomos
parar noutro teatro também no Planetário. O relógio corria e nós junto com
Jimmy a galope! Chegamos a tempo.
-
Mãe, lá está o pessoal.
-
Inês?
-
Deborah Prates?
-
Sim! Cá estamos. Essa é minha filhota.
E
começaram as apresentações com muita alegria. Estávamos em cerca de 15 amigos
deficientes visuais e acompanhantes.
-
Sou Luiz e faço parte do Teatro. Gostaria de saber mais sobre o cão-guia. Isso
porque nunca recebemos um guia! Não sabemos como ele se comporta com muito
barulho. Vai estranhar? Como devemos fazer?
-
Ah, Luiz! Boa essa inteiração. Os guias são maravilhosos! São educados, gentis
e sabem se comportar como verdadeiros lordes! Desde o treinamento já se
acostumaram com o burburinho! Não se preocupem! Vamos em frente.
O
Grupo do Teatro dos Sentidos estava de prontidão para nos receber com tudo
quanto tínhamos direito e muito mais. O público foi dividido em pequenos
agrupamentos, sendo, cada qual, conduzido por pessoa da Equipe. Nós três
ficamos no aguardo de acomodações mais amplas para que Jimmy ficasse com maior
conforto.
Após
a reunião do público fomos informados que os videntes, bem como os de baixa
visão seriam vendados com tapa-olhos. A proposta era nivelar todas as pessoas
para que experimentassem os demais sentidos. Já gostei da ideia. Sempre defendi
que a sociedade, em geral, precisaria trocar de máscara conosco para que, de
fato, pudesse entender a nossa realidade.
Todos
acomodados. Um artista, então, deu as explicações básicas, de modo que o
público entendesse a proposição de Paula Wenke.
A
peça - "FELIZ ANO NOVO" - escrita e dirigida por Paula Wenke, criadora
do Teatro dos Sentidos, é uma encenação concebida especialmente para ser
assistida de olhos vendados. Experimentaríamos aromas, sons, sabores e texturas
durante o espetáculo.
Igualmente
todos os presentes foram preparados para que explorassem os sentidos
remanescestes - audição, tato, olfato e paladar.
Paula
desafiou cada um de nós para que encontrasse um novo olhar sobre a narrativa.
Para os cegos não foi um desafio, mas um imensurável prazer! Poxa! Entender a totalidade de uma peça sem o
recurso da audiodescrição é tudo que queremos! Óbvio que rendemos graças ao
Criador por ter dado ao homem a criatividade para a tecnologia da audiodescrição!
No entretanto, com o espetáculo se desenvolvendo naturalmente é bem mais
confortável!
A
história é singela, leve e prazerosa de ser acompanhada com a supressão do
sentido da visão. Os atores foram fantásticos! A Equipe, no desenrolar da peça,
integrava o público no contexto, trazendo os cheirinhos, sonorização, texturas
e muito mais. Plateia e Produção fundiram-se numa inenarrável energia
denominada "FELIZ ANO NOVO".
Mergulhamos
na vida de um adolescente que descobria o amor. Na busca de subsídios para seus
sentimentos encontra um livro da autoria de Vinícius de Moraes na biblioteca de
seu pai. Em seu folheamento lê versos lindos e sugestivos. percebe que está bem
gasto pelo uso. Na contracapa acha uma dedicatória que registra um amor
vigoroso e, por ele, desconhecido. Cobra de seu pai - comandante da marinha e
viúvo - a identidade dessa mulher. Fica chocado ao ouvir que somente estiveram juntos
por uma noite e que nunca mais voltaram a se encontrar. Então, o comandante
relembra, numa de suas viagens mar afora, uma noite de réveillon. Viajamos no
túnel do tempo numa deliciosa simbiose.
Lá
vinham os aromas, ruídos, músicas, pipocas, cookies, marshmallows, taças com
champanhe, ventos, gotículas d'água, o balançar do navio, mugidos, a roncadeira
dos porcos, cocoricós das galinhas, pegada nas mãos, rosas vermelhas, etc....
Ficamos
inebriados com a festa da passagem do ano com tantos confetes e serpentinas a
nos envolver.
Verdadeiramente
singramos as águas dos oceanos com aquele comandante e suas histórias.
Literalmente nos lambuzamos com tudo de bom que a Produção nos ofereceu.
O
final da peça? Curiosidade mata, né?
Saí
do teatro com uma mensagem. Temos que ser comandantes de nós mesmos. Isso
equivale a pensar com a própria cabeça, ser timão e timoneiro, assumindo riscos
pelos erros, pois só erram os que tem a coragem para ousar e, se caírem,
levantar e tentar de novo. Sempre e sempre!
Fantástica
essa experiência. Minha filhota, enquanto vidente, ao final disse: - ADOREI!
AMEI!
Penso
que Paula Wenke seja uma genia! Que momentos calorosos passamos.
Confesso
que fui para o teatro com certa dúvida se assistiria mesmo algo de novo. Por
que? Porquanto, no último setembro, ter conhecido o cinema "6D's".
Nossa! Fiquei encantada com as sensações vividas na sala. poltronas com cinto
de segurança que se moviam freneticamente, sensações d'água, cheiros, ventos e
ventanias, trepidações, etc... Daí cogitei uma comparação e já fui predisposta a
achar a peça "boazinha". Que nada! São situações incomparáveis. Como água
e óleo que não se misturam.
Sem
dúvida alguma é o diálogo a melhor forma de sensibilizar a sociedade e,
consequentemente, educá-la para que recepcione melhor a PESSOA COM DEFICIÊNCIA.
Não adianta querermos pegar no tranco! Desde o início da civilização que temos
ciência das crueldades do homem. Já fomos atirados contra paredões. Depois
deixados pelas escadarias das Igrejas. Tidos como loucos. Largados na roda dos
enjeitados a espera que ela girasse para dentro de algum convento, etc...
Assim, com sua genialidade Paula conseguiu misturar/mixar a plateia de modo a nivelar/igualar
a todos. Sem dúvida, prova de sensibilidade e cumprimento da democracia no que
tange a ACESSIBILIDADE ATITUDINAL E COMUNICACIONAL. Necessitamos mudar as
nossas atitudes. Para tanto, precisamos de, em primeiro lugar, nos amar para,
depois, amar o OUTRO e, por via de consequência, o Planeta!
Mas
como terminou a história? O comandante reencontra a tal mulher do mar? E o
adolescente se declara para a coleguinha de escola?
A
resposta será dada diretamente a você que me lê. A temporada termina no dia
11/12/2011. Vá conferir! Vale a pena!
Sem
arranhões. Tudo perfeito/impecável!
PARABÉNS A TODA
EQUIPE DO
TEATRO
DOS SENTIDOS
Carinhosamente.
DEBORAH PRATES (cachogente)
e JIMMY PRATES (pessocão)
confira meu blog:
http://deborahpratesinclui.blogspot.com/
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