segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Rock in Rio 2013 NÃO é para todos!


ROCK IN RIO 2013


NÃO É PARA TODOS!
 




Descrição da foto para DV’s: Deborah Prates no rock in Rio (13/09/2013), de blusa preta listrada em prata, calça preta e óculos escuros, segurando Berenice (bengala coberta de leds brancos acesos).

 

 

                        150 mil m² de área glamurosa, maravilhosa, mágica, mas que pessoas com necessidades especiais - dentre elas os deficientes - não podem usufruir inteiramente. Lamentável! E o slogan é "POR UM MUNDO MELHOR..."

 

                        De antemão, vale enfatizar que as acessibilidades constituem genuínos DIREITOS HUMANOS. Sem elas estão maculadas a dignidade, honra e a cidadania das pessoas. Deixam de ser assegurados os direitos de ir e vir, igualdade, segurança, lazer... Dessa sorte, justificadas foram as visitas da CDH - Comissão de Direitos Humanos da OAB/RJ, à Cidade do Rock.

 

                        Da visita realizada no dia 28/8, nenhuma mudança registrou-se em 9/9, a favor das acessibilidades quanto aos erros apontados.

 

                        As rampas erradas (fora do padrão de acessibilidade) continuaram condenadas; o acesso que ficou de ser providenciado na entrada da sala de imprensa não fora feito; a palestra de capacitação que Deborah Prates ficou de fazer, pelo avançado da hora para a abertura da programação especial para convidados e fornecedores (9/9), ficou adiada para algum dia antes de 13/9 (o que não ocorrera); o piso de pedras continuou solto por todo espaço e perigoso para qualquer transeunte.

 

                        De novidade conseguiu-se ver apenas um banheiro acessível - numa das seis ilhas - que estariam disponíveis ao grande público. Afirma-se que, de fato, estava bom. Os banheiros feitos sob encomenda ficaram excelentes. O piso plástico imitando tábua corrida não estava derrapando. O espaço permitia um giro de 360 graus com a cadeira de rodas. Foram colocados dois vasos sanitários de boa altura e disposição, sendo um deles protegido com barras de ferro atrás e do lado direito. Portanto, boas as condições para a transferência dos cadeirantes. A pia estava bem posta, dando para a entrada da cadeira e para que o cadeirante pudesse usar a torneira adequadamente. Toalheiro e porta sabão estavam em boa altura. Foi sentida a falta de um apoio para bolsas e utensílios que também pudesse servir de trocador de fraudas. Sem dúvida seria um plus que, ante o espaço, ficaria inteiramente confortável como um banheiro da família, acompanhando a tendência de funcionalidade hodierna. Notou-se que a torneira da pia deveria ser de alavanca pensando em deficientes que não tenham mãos ou dedos para girar a chave da torneira.

 

                        Pena que no dia da inauguração - sexta-feira 13 - muitos banheiros estavam interditados em todas as seis ilhas. Numa delas o banheiro acessível (com uma plaqueta com uma cadeira de rodas) estava sendo usado por mulher SEM deficiência. A fila, como de se esperar numa noite com cerca de 90 mil pessoas era quilométrica. Sem qualquer preposto para organizar tive mesmo foi que brigar para entrar. Para tanto,  várias poças de urina tiveram que ser vencidas!

 

                        Inacreditavelmente a rampa de acesso as ilhas de banheiros estavam  fora do padrão, pelo que inacessível aos cadeirantes e demais deficientes físicos. Fábio Guimarães - andante em cadeira de rodas que acompanhou a Equipe - teve que ser ajudado/empurrado para a subida, sendo a descida verdadeira queda de montanha-russa. Fora, pois, do razoável ter um banheiro acessível sem a contrapartida de acesso até o espaço.

 

                        Os setores específicos para acomodar pessoas com necessidades especiais (deficientes, grávidas, idosos, pessoas com limitações temporárias...) não estava satisfatório. Por ilustração o espaço voltado para o palco mundo estava com parapeitos, em forma de grades de proteção, soltos e muito elevados. Portanto, além de perigosos, ainda atrapalhando a visão dos cadeirantes. A rampa de acesso estava absolutamente cruel. Nenhuma independência teria um cadeirante para subi-la. Inexistia corrimão que o caminho exigia como medida de segurança. Havia um tapume que tentava atuar como amparador, sendo que um preposto sugeriu que os que necessitassem poderiam ir fazendo dessa falsa parede seu apoio. Desumano! A vedação provisória, feita de tábuas, que acompanhava o percurso iniciava depois de alguns metros do começo dessa inacessível rampa, estando frouxo/instável e terminando numa enorme fenda/fresta. Nítido que não existia segurança à integridade física desse público alvo.

 

                        Sem sentido, pois, ter um espaço para acolher pessoa com deficiência INACESSÍVEL. No dia da inauguração lá estava a fenda a espera do pé de algum cego!

 

                        Esse espaço - localizado debaixo do brinquedo tirolesa para aproveitamento do terreno - na diagonal principal - prejudicou a visão, por inteira, do palco. Esse público só conseguiria ver cerca de 60% do espetáculo, pelo que, para a edição 2015, poderia ser melhor posicionado. Nada que um bom arquiteto e/ou engenheiro não desse conta.

 

                        A promessa de existência de Equipe de apoiadores para o trato/recepção dos diferentes somente funcionaria com palestras de capacitação. Até por isso reforçou-se a necessidade dessas palestras com a maior URGÊNCIA. No dia da estreia, de fato, existiam pessoas credenciadas, no entretanto NADA sabiam acerca desse contingente especial. Nadamos, nadamos e morremos na praia!

 

                        Foi ratificado, pelo coordenador, que para essa edição 2013, haveria mais um veículo adaptado para trazer os deficientes da parada do ônibus até a entrada especial, num total de duas conduções. De acordo com o orientador, apesar de estar disponível, nenhum deficiente procurou esse recurso na edição 2011. Houve o reconhecimento de falha na comunicação entre o Rock in Rio e os destinatários/usuários.

                        A Comissão de Direitos Humanos/OAB/RJ se colocou a disposição para ajudar a divulgar e trabalhar na condição de voluntariado nessa especificidade, no entretanto, o administrador não deu retorno. Fica, dessa forma, provado que a capacitação  (ACESSIBILIDADE ATITUDINAL) é a grande saída para um evento de sucesso.

 

                        Conferido o funcionamento dos brinquedos. Por ilustração, a roda gigante estava inacessível aos deficientes físicos, bem como aos que estivessem com alguma limitação temporária. Para os deficientes visuais encontrava-se em boas condições. No entretanto, qualquer pessoa com deficiência precisaria de ajuda nesse parque.

 

                        Solicitou-se para a edição 2015, pelo menos, uma cabine com total acessibilidade, melhor explicitando, daquelas que a cadeira de rodas pode entrar e ser protegida pelas grades de segurança. Nenhum dos apoiadores com quem trocou-se ideias haviam ouvido falar em parques/ brinquedos ACESSÍVEIS. Mais uma vez fica cristalino ser o diálogo o melhor caminho.

 

                        Na área VIP, por ilustração, havia uma rampa que deveria levar um cadeirante e outras pessoas que necessitassem de acessibilidade  a um platô, todavia, íngreme. Seu destino seria um elevador que tinha um degrau para a entrada. Descrição que foge totalmente ao raciocínio lógico, valendo dizer ao bom senso. O elevador estava em sintonia com os critérios de acessibilidade, mas sem eficácia ante os obstáculos apontados.

 

                        Ao lado do elevador havia uma escadaria onde o corrimão começava, inacreditavelmente, no terceiro degrau. Totalmente fora dos parâmetros determinados pela Norma Regulamentadora 9050/2004, que manda que o corrimão/proteção comece, no mínimo, 30 cm antes da escada ou rampa, bem como obedeça igual critério na saída da escada ou rampa. Destaca-se que corrimão não é enfeite.

 

                        Nessa enorme e linda área também havia uma corrediça/ trilho- bem saliente no chão - dividindo a área coberta da varanda - que impedia a passagem de cadeiras de rodas e de todos aqueles com dificuldades para andar. Sem contar dos distraídos que, certamente, estariam correndo risco de acidente. A varanda, com piso coberto com grama artificial, encontrava-se absolutamente irregular. Provado, nesse comentário, que um Rock in Rio Acessível é para TODOS e não só para as pessoas com deficiência.

 

                        Assim, no quesito acessibilidade pouco fora feito para essa edição 2013, que diferencie a situação da edição 2011. Sem dúvida um ponto favorável foi o terreno estar bem mais plano.

 

                        A nosso pedido fora disponibilizada pulseira, com o fito de melhor atendimento aos diferentes que quisessem. Importante deixar esse ponto bem claro, valendo dizer que aos que se sentissem desconfortáveis em seu uso bastaria a recusa. Logo, uma opção a mais sem constrangimento de parte a parte. É o que muitos juristas denominam de "discriminação positiva/afirmativa".

 

                        Para bem entender as ações afirmativas (citadas acima) é que tem lugar a transcrição de pensamento de Aristóteles:

                        "A verdadeira igualdade consiste em tratar-se igualmente os iguais e desigualmente os desiguais a medida em que se desigualem".

 

                        Sendo a ACESSIBILIDADE ATITUDINAL a chave do sucesso para um mundo com maior bem-estar para todos é que vale destacar o importante papel do ANDANTE EM CADEIRA DE RODAS - que acompanhou a CDH/OAB/RJ - Sr. Fábio Guimarães. Sem dúvida, causa um positivo impacto no corpo social, já que desmistifica essa ferramenta de locomoção que, na maioria esmagadora da população, causa medo. Imprescindível para uma coletividade mais igual é o humano entender que deficiência NÃO é doença. Em muitas situações as pessoas, ao verem Fábio se levantar, pós espanto, pedem para também sentarem na cadeira de rodas.

 

                        Relevante destacar, outrossim, a bengala recoberta em leds usada por Deborah Prates em situações em que o cão-guia não deve ser exposto a barulhos excessivos, queima de fogos... Pelo revestimento em leds as pessoas chegam perto e pedem para tocar na bengala. O recurso de acessibilidade termina passando de mão em mão, o que é bem salutar, já que antes desse artifício os semelhantes nem queriam encostar nela.

 

                        Dessa sorte, de forma lúdica, a Equipe vai mostrando à coletividade que as diferenças existem no viver diário como são e não como gostaria que fossem.

 

                        Ficou a proposta para que na edição 2015, a campanha do Rock in Rio tenha como foco a pessoa com deficiência, como forma de sensibilizar a coletividade para a construção de um MUNDO MELHOR PARA TODOS.

 

                        Restou ratificada e reiterada a necessidade de, ao longo dos próximos dois anos (visando a edição 2015), fazer palestras de capacitação para toda Equipe de trabalho, inserindo, é óbvio, os parceiros/apoiadores, objetivando despertar a solidariedade. Este é um sentimento, bem que não pode ser ensinado, como se faz com a matemática, física, filosofia, ética... Solidariedade tem que brotar de dentro para fora. A partir do momento em que as pessoas se colocam no lugar do outro a magia se faz e as mudanças vêm naturalmente. O trabalho de conhecimento, nesse primeiro momento, é contundente.

 

                        O mister da CDH/OAB/RJ foi o de retirar pedras sobrepostas em boas sementes. Como diz Cecília Meireles num de seus poemas, não se pode ensinar primavera para gelos e areias. É necessário cultivar para colher.

 

                        A Comissão preparou um relatório de falhas a serem corrigidas, na intenção de colher flores na edição 2015 do Rock in Rio. Os grandes eventos têm o dever de deixarem bons legados à coletividade!
 
 
Mostra de perigosa fenda (armadilha para cegos) existente No espaço reservado para pessoas com deficiência.
 

Mostra de que na fenda acima cabe um pé tamanho 39. Perigo!
 
 
 
Mostra de rampa íngreme na área reservada para deficientes.
 


Mostra dos deficientes na área reservada.

 
Mostra de que o palco está da diagonal principal, com grades inclinadas/soltas e em altura que atrapalha a visão dos deficientes.


Mostra da desorganização da fila do banheiro próximo ao acessível, sem preposto para higienizar e proibir a entrada de pessoas sem deficiência (no primeiro dia)
 
 
 
Mostra dos banheiros interditados. A cada 15, 5 estavam interditados (para um público de 90.000 pessoas)
 
 
 
Mostra de rampa íngreme na entrada dos banheiros acessíveis.
 
Mostra de Fábio Guimarães (andante de cadeira de rodas) no interior do banheiro acessível, onde as barras de transferência estão boas.
 
 
Mostra da pia com chave giratória da torneira, inacessível para que não tenha dedos.
 
 
Mostra do piso com as pedras já soltado no dia 09/09/2013.
(antes da inauguração do Rock in Rio). Esse quadro não foi corrigido.
 
 
 
Mostra de Deborah Prates na roda gigante. O parque estava com todos os brinquedos inacessíveis.
 
 
Mostra de corrimão na área VIP começando no terceiro degrau.


 
Mostra do Bob’s, com parte do balcão rebaixado (ideal para cadeirantes e pessoa com nanismo)

 
Mostra da rampa íngreme até o elevador da área VIP, com um degrau na porta.
 

Mostra de corrediça/obstáculo dividindo área VIP da varanda. Essa, revestida com grama artificial totalmente irregular. Prova de que um RIR acessível é para todos!
 
 
 
Sala de imprensa sem acessibilidade.
 
 
 
 
 
 




 
 
 
 

5 comentários:

  1. Uma amiga minha fez, em 2006, um trabalho sobre o despreparo do setor hoteleiro e do setor de eventos para dar acessibilidade aos deficientes de todo o gênero; o Governo Estadual até a convidou para fazer um estudo mais detalhado, para que houvesse intervenção pública nos problemas apresentados. MAS NADA ACONTECEU.
    o que eu acho? não é despreparo; é visão focada unicamente no lucro, mesmo.

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    1. Querido amigo Gomes, eis a cultura da superficialidade que nos devasta! Muito embora o trabalho dela não tenha dado em "nada", penso que não podemos esmorecer jamais. Também o meu - de formiguinha - poderá não trazer tantas vitórias. Contudo, temos que apostar todas as fichas na ACESSIBILIDADE ATITUDINAL. Não tenho dúvida ser a chave do sucesso por um planeta mais justo. Vamos entregar um relatório - visando a edição 2015 do Rock in Rio - através da OAB/RJ. Nova tentativa de êxito em 2015. Obrigada por sua interação. Estamos juntos. Carinhosamente Deborah Prates

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    2. Sr. Gomes, boa tarde.
      Concordo quando o senhor fala sobre a visão do lucro, mas é justamente devido ao trabalho de formiguinha, o qual nossa Deborah sublinha, é que aos poucos acontecem as mudanças. Mudanças na Legislação, nas Gerencias de Hotéis que têm a percepção do lucro que os PcDs podem trazer... Posso até citar na mudança de cultura em relação a participação da vida social deste publico.
      Querida Deborah, parabéns pelo trabalho de sempre.

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  2. Olá Deborah Prates! Seu trabalho de conscientização nos mostra o que está por trás desse evento tão grandioso, onde o ganho financeiro é tão grandioso quanto a, ainda, falta de acessibilidade a todos. Parabéns mais uma vez! Abraço, Rosa Santos.

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    1. Querida amiga Rosa, quanta saudade! Obrigada por nos acompanhar. Veja que o Rock in Rio empregou, para essa edição 2013, cerca de 15.000 pessoas. e a cota para empregar as pessoas com deficiência? Com quem foram preenchidas? Apesar da minha pergunta aos coordenadores, não vieram as respostas. Muito a fazer para exigir dos mega eventos um bom legado das acessibilidades. Carinhosamente Deborah Prates

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