sábado, 9 de novembro de 2013

Assédio sexual contra as mulheres com deficiência

 
 ASSÉDIO SEXUAL CONTRA MULHERES COM DEFICIÊNCIA
 
 
 
 
 
Foto de meio corpo de Rosa Fonseca (presidente da OAB/MULHER), sorrindo, de blusa de gola alta lilás e casaco roxo e ao lado foto em preto e branco de Deborah Prates agachada abraçando Jimmy Prates.



               Calorosa fora a recepção ofertada pela Dra. Rosa Maria de Souza Fonseca, presidente da COMISSÃO OAB-MULHER/RJ no evento intitulado "Assédio Sexual nos Transportes Públicos e a Tutela Jurídica da Dignidade Feminina", ocorrido na sede da OAB/RJ. Como de hábito, Jimmy Prates - meu pessocão - roubou a cena, encantando a mulherada presente! Sem dúvida, tema da maior relevância e que, por ainda ser visto como tabu, pouco se fala.

 

               Foi o máximo ter ouvido a palestra por um representante do sexo masculino, quem seja o incrível Dr. Fábio Vanderley, advogado com ênfase em Direito Constitucional e Administrativo discorrendo como os seus pares, em 2013, ainda veem as mulheres como seres inferiores, atribuindo-lhes dons preponderantes aos serviços domésticos e SEXUAIS. Homens que tratam a mulher como uma coisa e não como sujeito de direitos de forma plena/igual, valendo dizer como um ser humano com idêntica dignidade. Por sua vez, pela cultura desde o início da civilização, muitas mulheres se revestem com o traje da inércia, da passividade e do silêncio/medo, que as impedem de reagir à mínima agressão traduzida por um tom de voz mais elevada.

 

               Concordei plenamente com o Dr. Fábio Wanderley quanto aos comentários que fez relativamente ao chamado "vagão rosa" do Metrô da RJ. Entendo não se tratar, nem de longe, de segregação que vulnere ainda mais as mulheres como querem afirmar algumas feministas. Enquanto mulher, gostei da ideia do "vagão rosa", muito embora continue a usar qualquer um mesmo nos horários de pico, justamente por entender cuidar-se de uma opção - um plus afirmativo/positivo - e não de obrigatoriedade.

 

               Julgo ter sido a primeira etapa para a mudança dos maus hábitos masculinos, já que servem de um alerta para dizer: - Não estamos gostando dessas atitudes insanas"! Agora é preciso, com a maior urgência, implementar a segunda parte/etapa da reforma comportamental, traduzida em CAMPANHAS  que exercitem a ACESSIBILIDADE ATITUDINAL, tanto por parte dos governos, quanto pela sociedade civil/privada. Como assim? Simples; usando as mídias em geral. Pequenos vídeos/falas que traduzam ser a mulher sujeito de idênticos direitos e obrigações, sendo senhora de si e de seu corpo, independente da roupa que esteja usando. Homens hão que respeitá-las quer estejam de burca, quer de topless. Aliás, se homens estiverem nus pelas ruas, penso que as mulheres poderão chegar ao máximo de demonstrarem espanto. Contudo, não chegarão ao cúmulo de agredi-los por sentirem-se atraídas sexualmente. É mesmo cultural.

 

               A despeito de ter apreciado muito a palestra do Dr. Fábio Wanderley, não poderia deixar de salientar que sobre assédio contra mulheres COM DEFICIÊNCIA absolutamente nada fora dito. Prova de que permanecemos invisíveis aos olhos da sociedade! Cruel, porém real. Não obstante da triste conclusão, não acredito seja por maldade, mas - tão-só - pelo olhar assistencialista que a sociedade insiste em nutrir por nós no ano de 2013! Pelo esquecimento é que cumpre-me explicitar o tema como se segue.

 

               As mulheres com deficiência são bem mais sujeitas aos assédios sexuais nos transportes que as sem deficiência. A razão é óbvia! É que mais fácil perpetrar a covardia com quem não pode correr (deficientes físicas), com quem não pode gritar (surdas), com quem não pode se situar (cegas), com quem não pode entender a situação (deficientes intelectuais)...

 

               Aproposito, estende-se tais desumanidades contra mulheres deficientes em tantos outros maus tratos vindos da própria família e pessoas conhecidas que as cercam. Não são histórias de livros mulheres deficientes ficarem grávidas dos pais, irmãos...nem de serem molestadas/agredidas em períodos de gravidezes.

 

                      Se mulheres sem deficiência não vão registrar agressões junto as autoridades, muito menos e com mais argumentos as COM deficiência deixam de exercer seus direitos. No Brasil, sobre gestações indesejáveis em mulheres com deficiência, só se encontram relatos por volta de 2003, pelo que raros são os casos comentados.

 

               Essas mulheres, em regra, iniciam os cuidados pré-natais mais tardiamente, o que as deixam mais suscetíveis a gestarem fetos mais fragilizados, a sofrerem abortos e a darem à luz a natimortos.

 

               Como de hábito, repito ser a ACESSIBILIDADE ATITUDINAL a chave do sucesso para um Brasil mais equânime. Assim, nas campanhas que sugeri acima, sem dúvida deverão estar as mulheres COM deficiência misturadas com as sem deficiência.

 

 

               Claro que na oportunidade de inteiração lá estava eu com os braços erguidos a espera do microfone, que não tardou a chegar! Teci muitas das considerações agora trocadas com os amigos. Não tenho a segurança para dizer que fui totalmente absorvida; não importa esse detalhe. Relevante somente é que semeei boas sementes, as quais pretendo ver florescer em breve.

 

               Após a minha fala tive a felicidade de ouvir da nossa presidente que Jimmy Prates e eu éramos os mais novos integrantes da OAB-MULHER/RJ. Quanta emoção! Incluir é processo complexo porque está intrinsecamente atrelado a alma. De um lado estava a Dra. Rosa Fonseca que, com sua sensibilidade, pôde enxergar o quão benéfico/salutar é o convívio com as diversidades. Doutro lado estava eu na beiradinha da tigela da massa do bolo a espera só de um empurrãzinho para ser misturada/incluída. (http://deborahpratesinclui.blogspot.com.br/2013/03/bolo-sem-glace.html)

 

               Confesso que sair da zona de conforto significa vencer o medo e se atirar contra os leões. Mais fácil é a pessoa com deficiência preferir estar reunida com seus pares, já que na mesma realidade. Mas navegar é preciso! Tem navios que ficam uma vida inteira dando voltas e mais voltas em torno do cais, com medo de zarpar e pegar ventos fortes. A gente não deve aceitar isso, pois significa concordar em ser menos do que pode ser. Todo dia é dia de evolução e aprendizado... Não existe navio que não tenha passado por tempestades e muitos afundam por não saberem evitá-las, por falta de comunicação ou por acharem que não precisam dos outros...

 

               Carinhosamente. DEBORAH PRATES e JIMMY PRATES.

4 comentários:

  1. Débora mais uma vez parabenizo-a pela garra, preocupação permanente de inclusão, não só sua mas de todos. Além do que o tema é bastante pertinente. Fiquem com Deus - você e Jimmy. Faltam 1000 dias para a Olimpíada de 2016. O que ficará de legado depois de 2014 e 2016. bjs Fábio Guimarães - Não sou cadeirante mas....e se fosse?

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    1. Queridíssimo amigo Fábio, saudades de um bom papo com você! Grata pelo carinho habitual em um tema tão indigesto quanto o abordado na crônica. Pois é, tenho para mim que praticamente nenhum legado nos será deixado após os jogos. Depois da insensibilidade que você acompanhou no Rock in Rio, o que mais esperar? Por outro lado, navegar é preciso. Vamos em frente sem esmorecer. Carinhosamente Deborah Prates

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  2. Oi Débora...vou fazer uma " correção" se assim me dá o direito...sou surda...e posso gritar quando eu quiser rsrsrr....acho que colocou a pessoa surda como muda...o que não é realidade...todo surdo emite som...ao menos que seja mudo como falei...quanto a possibilidade do surdo passar maior sufoco nesta situação...falando de minha parte...acredito que seria ...pelo fato de não entender o que o abusador esta falando...mas quem não ouve tem uma percepção visual muito grande...eu nunca passei por nada...e desejo boa sorte a todas as mulheres deficientes...realmente são mais fáceis de ser abordada e abusada...grande abraço e sucesso no nosso caminhar!!

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    1. Querida amiga, grata por sua interação. Certo é que as mulheres surdas, embora muitas (como você) consigam se manifestar, não têm o poder de chamar atenção pela voz como as mulheres que não são surdas. Isso é um fato entre a grande maioria das mulheres surdas. Carinhosamente Deborah Prates

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