quarta-feira, 21 de maio de 2014

Navegando no seco

 NAVEGANDO NO SECO






Descrição da imagem para DV's: Em evidência o chão marrom e rachado da represa de Jaguari,.em São Paulo. No fundo da foto vê-se as gigantes paredes que compõe a represa, como também alguma vegetação ao redor.  



        A falta de esperança é sinônimo de insegurança, medo, frustração... aonde está o norte?


        Liguei a TV e meus ouvidos viram uma notícia sobre o HIDROANEL METROPOLITANO DE SÃO PAULO. O cara falava sobre mobilidade urbana. Em especial, para a pessoa com deficiência, o tema sempre atrai, pelo que redobrei minha atenção.


        Para este fim, entendo, modestamente, como mobilidade urbana a possibilidade ou mestria que têm os munícipes de deslocamento no espaço urbano para a realização das atividades cotidianas em tempo satisfatório/confortável e seguro. As cidades têm sido administradas pelos e-gestores que, de seus computadores e em ambientes deliciosos, esboçam suas ordens para que os comandados, de modo ineficaz, deem, por ilustração, Concessão de Uso para que banca de jornal acabe em quinas ou termine em escadas que chegam a lugar algum; hidrômetros sejam instalados sobre rampas; vagas para deficientes marcadas em cantos sem saída impedindo o trânsito de cadeiras de rodas, muletas... Por estas poucas e comuns narrativas fica cristalino que pessoas com deficiência são fictícias, invisíveis, alienígenas! Se o comandante não sabe que erra, como corrigir a rota do navio?!


        Amigos leitores, tenho ou não razão em insistir que só poderiam tomar posse em cargos públicos aqueles que soubessem lidar com os seres humanos, que conhecessem as diversidades? ATITUDINAL JÁ! (http://deborahpratesinclui.blogspot.com.br/2014/05/e-humano.html)


       Tratava-se de projeto da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, do Grupo Metrópole Fluvial, que consistia numa rede de vias navegáveis composta pelos rios Tietê e Pinheiros, represas Billings e Taiaçupeba, além de um canal artificial ligando essas represas, totalizando 170km de hidrovias urbanas. O desenvolvimento urbano sustentável seria o troféu.


        Os rios urbanos transformariam-se em vias para transporte de cargas e passageiros, uso turístico e de lazer e muito mais que o paulistano pudesse sonhar. As justificativas eram maravilhosas, como, por exemplo, o acesso universal à cidade e o bem-estar social. Nossa, achei a ideia; dos deuses; que máximo!


        Meus neurônios congelaram. Dei um travão na viagem. Algo havia de errado nas informações. Não fazia muito que havia lido que, pela falta de investimento do governo na ampliação de mananciais em SP, a população sofreria com o esvaziamento das águas na Cantareira, no Alto Tietê... Até a água do fundo das represas, abaixo do nível de captação das comportas, seriam usadas para melhorar o abastecimento. A mídia noticiou que para esse cruel tapa-buraco o governo gastou cerca de R$ 80 milhões para construir canais e instalar bombas.


        E chegou o grande dia da "inauguração" do VOLUME MORTO! Como a história se repete é que vale lembrar aqui o imperador romano Otávio Augusto, que criou a política do pão e circo. O ditador continha a revolta da multidão oferecendo alimento e muita diversão. Atualizando, os "e-gestores" paulistas fizeram, inacreditavelmente, festa para a nova edição do VOLUME MORTO! Certo é que o povo fechou o sorriso quando constatou que a água não chegara nas torneiras... e a brincadeira acabara bem perto do outubro eleitoral!!!


        Pois é, mas retornando ao sonho da mobilidade urbana traduzido pelo lindo projeto da USP, para o qual os administradores injetaram recursos dos cofres públicos, é que parei para pensar no tremendo contrassenso: como gastar em espetaculares projetos para transformar os rios urbanos em vias para transporte de cargas e passageiros, quando a água está morrendo/secando? Julgo que seria mais coerente se os paulistanos brigassem para que os recursos fossem alocados para a ampliação dos mananciais, o que não acontece há uns 30 anos. Daí é que a coletividade de São Paulo vai sonhando e navegando no seco... e o dinheiro indo comportas abaixo...


        A Copa já chegou e, com ela, o circo de Otávio e o futebol! Li que o legado que este planetário evento deixará para o povo será, tão-só, de uns 20%; quer dizer: um LEGADINHO! E a desesperança toma conta da sociedade, em especial, das pessoas com deficiência. Antes sofríamos com a total falta de acessibilidade de todo gênero; depois com os canteiros das inacabadas obras e, pela previsão dos especialistas, permaneceremos no profundo inferno astral... tudo igual... para as pessoas sem deficiência 20%... para as pessoas com deficiência e mobilidade reduzida restarão as mesmas promessas... mais do mesmo. E vamos entoando a canção interpretada por Zeca Pagodinho: "Deixa a vida me levar... vida leva eu... sou feliz e agradeço por tudo que Deus me deu..."


        A falta de água em São Paulo não pode ser atribuída à ausência de chuvas nos últimos tempos, assim como os deficientes NÃO podem se conformar com a falta da acessibilidade amparada na absoluta desumanidade dos "e-gestores". Indubitavelmente é a SOLIDARIEDADE o sentimento que nos faz HUMANOS. Os valores e princípios norteadores da ética hão que voltar à moda. Hei de realizar o sonho de ver incluído nos currículos dos cursos universitários a disciplina: o estudo da solidariedade. Somente desse modo retiraremos as pedras que repousam sobre as sementes, que não germinam por falta de OPORTUNIDADE. Precisamos todos da oportunidade da felicidade.


        O lema do imperador Augusto está se repetindo em 2014. A Copa está nos entorpecendo/anestesiando. A população está se esquecendo dos problemas do viver diário. A história nos dá conta de que os argumentos de Otávio Augusto se repetem: divertidos e bem alimentados, não teriam por que reclamar. Pão e circo... água do volume morto... Até quando os deficientes suportarão?


        O leitor me perguntará: qual a solução? Respondo sem medo de ser prazenteira: a UNIÃO. Que tal se juntássemos todos os humanos que integram os grupos sociais vulneráveis? O IBGE diz que os negros são mais de 52% da população; que os deficientes são mais de 24%...idosos... índios... crianças/adolescentes...mulheres... Certo é que o enlace de todos os que precisam das ações afirmativas/positivas para terem resguardados os seus direitos constitucionais - DIREITOS HUMANOS - daria um novo tom nas regras sociais. Que moral é essa que está ditando a tendência e a moda dos saques, dos linchamentos, dos quebra-quebras... Qual será a fantasia do próximo Carnaval?



DEBORAH PRATES

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