quinta-feira, 8 de maio de 2014

Recife

RECIFE



Descrição da foto para DV's: Prédio da faculdade de Direito da Universidade Federal de Pernambuco - em Recife (UFPE). Construção de 1912, em tom creme envelhecido, com uma escadaria com doze degraus (absolutamente inacessível para os deficientes físicos, bem como para os que possuem alguma limitação temporária) que dá para um bonito jardim na frente.


                        O verbete RECIFE também quer dizer: sólido, firme; caminho pavimentado. No entanto, no que tange as acessibilidades os caminhos da cidade de Recife não são pavimentados, nem firmes para o cidadão recifense ter assegurado o seu direito de ir e vir. Esse desalento não é exclusividade da capital de Pernambuco.


                        Vitor Simon e Fernando Martins, há 60 anos, registraram a falta de responsabilidade/gestão dos administradores na marchinha Vaga-lume e, no Carnaval de 1954, todo Brasil terminou cantando: "Rio de Janeiro, cidade que nos seduz. De dia falta água e de noite falta luz...",


                        Inacreditavelmente, depois de 60 anos, os cariocas conseguiram acabar/esculhambar a RJ elegendo governantes piores e piores... Em 2014, por incompetência das concessionárias e adjacentes, faltaram para os cariocas luz, água, segurança pública, saúde, transporte, educação de qualidade, ACESSIBILIDADES de todo genero...


                        Bem, mas o foco da hora é Recife, pelo que quero dividir com os amigos a deliciosa experiência que experimentei junto aos recifenses nos dias 5 e 6 de maio de 2014, quando fiz uma palestra na Universidade Federal de Pernambuco. Com muita honra integrei o V Minicurso - Tutela dos Interesses Difusos, realizado pelo Grupo de Pesquisa Tutela dos Interesses Difusos, da Faculdade de Direito do Recife a convite do coordenador - Dr. Leonio Alves.


                        Poxa vida, quantas lembranças recentes desfilaram em meu cérebro. Jamais poderei esquecer da INJUSTIÇA que o Ministro Joaquim Barbosa tentou perpetrar ao indeferir o meu pedido administrativo feito ao CNJ (Conselho Nacional de Justiça), que objetivava garantir o meu direito, como pessoa cega, a continuar peticionando em papel até que os sites integrantes do Peticionamento Eletrônico (PJe) estivessem acessíveis, conforme as normas internacionais de acessibilidade para web (Consórcio W3C). No contraponto, jamais esquecerei que foi o povo recifense que mais me deu apoio incondicional, solidário, sem temor de represálias... juntos tivemos coragem porque vencemos o medo... somos militantes... fomos na velocidade da luz na busca desmedida do DIREITO E JUSTIÇA. Afinal, que tipo de advogados seríamos nós se não nos mobilizássemos na restauração do Artigo 133, da Constituição da República, que impõe ser o advogado  essencial à manutenção da democracia e muito mais nas linhas e entrelinhas. Em casa de ferreiro o espeto NÃO há que ser de pau!


                        O Prof. Leonio Alves abriu os trabalhos do dia 6, discorrendo sobre: acessibilidade e sua evolução nos contextos internacional e nacional; seguindo, o gigante juiz federal Dr. Roberto Wanderley Nogueira analisou: acessibilidade e cargos públicos no Brasil; e meu sangue ferveu de alegria quando a minha vez foi anunciada para palestrar sobre: acessibilidade atitudinal.


                        Aaaaaaaaaaaaaah, sempre ela! A chave/porta para a felicidade desse nosso Brasil, tão deficiente de tudo... do possível e do inimaginável. Auditório lotado de corações férteis para a semeadura da solidariedade. Difícil falar de matéria inexistente em qualquer curso, já que, por cegueira dos administradores de todas as esferas, ainda não fora implantado o estudo da SOLIDARIEDADE... do sentimento que nos faz humanos. Meus antecessores enfatizaram o Direito e a moral, na perspectiva do conjunto de regras impostas pela cultura do momento. Entretanto, voltei os holofotes para a JUSTIÇA E A ÉTICA, sob o panorama dos valores e princípios que moram dentro da alma. Não tenho dúvidas de que a ética e a cidadania são dois dos conceitos que constituem a base de uma sociedade próspera.


                        Claro que ética e moral são temas relacionados, mas são diferentes, porque moral se fundamenta na obediência a normas, costumes ou mandamentos culturais, hierárquicos ou religiosos; e a ética, busca fundamentar o modo de viver pelo pensamento humano.


                        Eis a questão/desafio! O Brasil precisa se especializar na arte de pensar. O mestre Rubem Alves, em sua obra: A alegria de ensinar, escreve: "Por isso, sendo um país tão rico, somos um povo tão pobre. Somos pobres em idéias. Não sabemos pensar. Nisto nos parecemos com os dinossauros, que tinham excesso de massa muscular e cérebros de galinha." Lamentavelmente, como bate e rebate o querido Prof. Padilla, estamos submersos na cultura da superficialidade. Eu prefiro dizer que nos enterramos na cultura das obsolescências programada e intuitiva, na qual o ter se sobrepôs ao ser e valemos pelo que ostentamos... somos escravos dos verbos: trabalhar, ver e comprar...


                        Faz 200 anos que o capitalismo selvagem nos assola. Queremos mais dinheiro, mas para quê? Gestores e coletividade são influenciados pelo poder de persuasão da ganância empresarial, cujo lema é comprar, comprar e comprar... a minha dignidade não está à venda... nem a sua! Quando despertaremos? Quando receberemos um beijo de amor para esquecermos de ser sapos e retornarmos à condição humana? Minha esperança não pereceu, pelo que sei que exercitaremos os nossos neurônios em busca do despertar da solidariedade. Está escrito/imposto na Carta Cidadã que tem o Estado o dever de propiciar aos humanos - brasileiros ou não - o bem-estar rumo à felicidade plena... só no papel/virtual.



                        Sinto que atingi o meu objetivo ante a reação dos amigos recifenses. Sabem quanto custou o ingresso para participar do evento? Tão-só dois quilos de alimentos não perecíveis! Saímos todos com as almas alimentadas... solidariedade, amor, fraternidade...


               A mestra Larissa Leal fechou o minicurso discorrendo sobre: acessibilidade e tutela consumerista. Ao término muitos abraços... matéria com matéria... energia sobrando e arrepiando... e o horário do voo chegando... a correria instalada... adrenalina e pé na estrada. No aeroporto check in demorado, pipi do Jimmy, fome... tapioca, cuscuz amarelo, bolo de rolo... barriga vazia e coração arrebentando de saciedade/satisfação... declínio da balança... maravilha!


                        No avião meus pés não tiveram alívio com o peso de Jimmy Prates sobre eles; e a amiga ATITUDINAL continuou rolando com a tripulação, clientes e com Deus nas alturas. Refletia com o gentil Júlio que estava na cadeira ao lado sobre o pensamento de Cecília Meireles com o qual fechei a minha fala: "Dai-me Senhor, a perseverança das ondas do mar, que fazem de cada recuo, um ponto de partida para um novo avançar."


                        Voando nas asas do pensamento e do avião energizava para que os avanços fossem bem maiores do que os recuos; sonhando com a cabeça nas nuvens... humanos e universo e vice-versa... partículas, massa... obrigada Recife! A humanidade há que se lembrar que deriva do humano.



DEBORAH PRATES.

5 comentários:

  1. Meu Deus, que delícia "navegar" nesse mar de palavras, suaves detalhes que nos leva na sua bagagem, Deborah Prates, nossa amiga maior. Obrigado por sua ATITUDE, de ir, de falar, de escrever, de encantar. Obrigado por me ter no seu "hall" de amigos. Fique com Deus. bjs Fábio Guimarães.

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  2. Gostaria de falar mais um pouquinho mas, o Fábio De Seixas Guimarães, registrou exatamente como é bom "navegar" nos seus textos Deborah Prates e muito bom que muitas pessoas influentes estivessem lá para ouvi´-la falar sobre a acessibilidade atitudinal e coloquem em prática estas necessidades prementes, não só de RECIFE como também aqui no Rio. A Copa está chegando e nossas esperanças estão indo por água a baixo, pois acessibilidade que é bom.. nada! Nem chegar aos estádios, nós cadeirantes, conseguiremos com a devida facilidade. Parece que haverá descrição para cegos com gente qualificada eu acho interessante. De qq forma, esperávamos mais acessibilidade atitudinal dos nossos governantes, esperávamos um legado digno para nós deficientes,mas parece que ainda não será desta vez. Acho que haverá necessidade de termos mais e mais palestras conscientizadoras de pessoas ativistas com o sangue e entusiasmo da nossa Deborah e acho que pra "peitar", só mesmo esta mulher incrível. Desejo mesmo que RECIFE tenha intronizado todo conhecimento e força do conhecimento da amiga e que se ACESSIBILIZE assim como nós. É premente que aconteça o mais rápido possível...É uma geração imbuída de vontade de que tudo dê certo a despeito de toda a onda contra ao desenvolvimento das pessoas deficientes. É mais que certo de que NÃO QUEREMOS MAIS SER FANTOCHES, QUEREMOS A CIDADANIA A QUE TEMOS DIREITO E VAMOS A CADA DIA LUTAR MAIS E DENUNCIAR ERROS E OMISSÕES DE QUEM SE DIZ GESTOR...Também tenho a honra de fazer parte do seu seleto WALL OF A FAME, Deborah!

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  3. Parabéns amiga pela PERSISTÊNCIA e COERÊNCIA com que escreve seus textos. Embora longe meu coração está sempre perto e torcendo sempre muito por você e daqui desejando - "Dai-NOS Senhor, a perseverança das ondas do mar, que fazem de cada recuo, um ponto de partida para um novo avançar." Grande abraço. sua sempre amiga Kátia Franco

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    1. Queridíssima amiga Kátia, tenho a certeza de que nossos corações estarão sempre entrelaçados. Mais uma vez, registro que sou sua fã incondicional. Seu trabalho é muito lindo. Somos como formiguinhas; trabalho contínuo, árduo, vagaroso... porém produtivo. Carinhosamente Deborah Prates

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  4. Saudades de vc, caríssima amiga Déborah Prates! Seus raios de luz iluminam e cintilam sobre o nosso porvir. Forte abraço, Roberto Wanderley Nogueira

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