quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Melancolia...

 MELANCOLIA...




Descrição da foto para DV'S: Deborah Prates, de óculos lilás e vestido listrado de lilás e azul claro, está agachada abraçando Jimmy Prates, que mantém seu olhar em um ponto acima da câmera. 




                   Para alguns, quase madrugada, para outros hora de sair para mais um dia de luta. Pingos grossos e oscilantes batiam nas folhagens das minhas plantas na janela. Não parava de pensar num e-mail que abrira fazia pouco. A ausência do olhar holiístico da maioria é aterrorizador!

                   O maldito olhar assistencialista que nos deixa invisíveis aos olhos da sociedade é contundente em 2013. Pessoas dizem querer fazer por nós... Um "bolinho" de cada vez e com glacê! Já disse numa crônica que bolo com glacê nunca mais! (http://deborahpratesinclui.blogspot.com.br/2013/03/bolo-sem-glace.html)

                   O homem é um todo indivisível, e que não pode ser explicado pelos seus distintos componentes (físico, psicológico ou psíquico), considerados separadamente. Pelas ruas da RJ andam, na mesma calçada, cegos, cadeirantes, surdos, muletantes, obesos, negros, ciganos... Então, como a sociedade pode perder esse contexto tão óbvio?

                   Pois é, é com profunda melancolia que concluo que calçadas não são para todos, na mesma proporção de que os GOVERNOS são para poucos. Que teatro grotesco cismam os politiqueiros baratos em fazer a cada outubro eleitoral! No contraponto, lembro de um certo domingo de sol na praia quando meus ouvidos viram uma voz masculina colocar-se de pé bruscamente, sob a alegação de que estava atrasada para ir receber R$ 100,00, pelo seu voto... Nasceu primeiro o ovo ou a galinha?!

                   Para mim a inigualável obra de Platão "Alegoria da Caverna" mostra bem a prisão do conhecimento em que estamos mergulhados. Em sua alegoria enxerga que o homem poderá viver no         mundo das sombras/ ignorância, acreditando em um mundo completamente diferente         da realidade, podendo talvez, atingir a luz, ou seja, sabedoria, para viver livre de preconceitos, conhecedor da verdade.

                   Na tristeza dessa manhã fiz uma breve retrospectiva no que vejo na mídia em geral. Novelas mostram uma ou outra deficiência de cada vez. Mas no nosso viver diário todos andam misturados! Daí é que os personagens, por ilustração, bem poderiam pedir informação para um cego, ou trombar com um surdo, ou ajudar um obeso num habitual desequilíbrio. Nunca soube de uma cena em que um famoso ajuda uma pessoa com nanismo a fazer uma ligação num "orelhão". Não existimos? A sensibilidade dos artistas só consegue nos integrar, contudo, falta um bocado para nos incluir. Eis a prova do olhar assistencialista às escâncaras! Crítica destrutiva? Claro que não! Apenas constatações do tipo: As deficiências/ diferenças têm a idade do homem!

                   Fui reler o sábio texto Solidariedade, por Rubem Alves. "Palavras que ensinam são gaiolas para pássaros engaioláveis. Os saberes, todos eles, são pássaros engaiolados. Mas a solidariedade é um pássaro que não pode ser engaiolado. Ela não pode ser dita. A solidariedade pertence a uma classe de pássaros que só existem em vôo. Engaiolados, esses pássaros morrem".

                   Então, a cultura da superficialidade - que nos engaiolou na fôrma da indústria da moda - retirou-nos  a autonomia do pensamento. Ainda com as portas das gaiolas abertas não sabemos mais voar, sonhar... a esperança pereceu... Vamos tocando ao ritmo da canção interpretada por Zeca Pagodinho, "...deixa a vida me levar; vida leva eu..."

                   Estamos nas sombras descritas pelos sábios dos sábios, Platão. Acorrentados numa caverna. Faz sete anos (idade da cegueira) que aprendi que somente através do CONHECIMENTO conseguiremos nos libertar das grossas e pesadas correntes que nos aprisionam desde o início da civilização. Necessitamos aprender/conhecer o outro/semelhante. Como? Através do exercício diário da ACESSIBILIDADE ATITUDINAL. Sim, falo de mudanças dos nossos maus hábitos, a fim de que consigamos agigantar a rede da SOLIDARIEDADE. Somente estando na pele do outro é que conseguiremos nos livrar das sombras que nos divide.

                  Desejo que nos novos filmes tenhamos a homogênea mistura da massa do bolo. Estou sempre na beirinha da tigela escorregando para dentro para ser mixada com ovos, açúcares, farinhas...

                   Quero ser INCLUÍDA! Queridos amigos, pratiquem diariamente a verdadeira INCLUSÃO!

                   A chuva passou, minhas plantas estão saltitantes, sinto chegando um raio de sol... dias de chuva se alternam com os de sol; a tristeza se alterna com a alegria; a saúde se alterna com a doença... sempre um dando lugar ao outro... E com que facilidade nos esquecemos que nada é eterno, a não ser o próprio movimento! O Universo conspira a nosso favor?

Carinhosamente.


DEBORAH PRATES

6 comentários:

  1. Analogias e conexões melancólicas, amiga, porém de bela sensibilidade!!! bjs

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    1. Querida amiga Luci, bem solidário de sua parte postar esse comentário. De fato, penso que o que o corpo social faz em relação aos grupos sociais favoráveis é desumanidade escancarada! Como militante, não posso me calar enquanto muitos alcançam glórias com a nossa "bandeira". Afinal, se não falarmos, como a coletividade poderá aferir suas más atitudes? É isso aí, estamos juntas por um planeta com maior bem-estar para todos. Carinhosamente Deborah Prates

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  2. Belíssimo texto querida amiga, ou melhor, belíssimo desabafo! E na ciranda da inclusão, puxam-se tapetes e colocam cacos de vidro no caminho.

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    1. Querido amigo Amauri, grata por sua solidariedade! É como você diz, muitos cacos de vidro na estrada da inclusão e ficar de pé sobre eles é o grande desafio. O importante é que a sociedade conheça onde aperta o nosso sapato, sendo que o calo foi criado pela própria... Carinhosamente Deborah Prates

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  3. Ahhhhhhhh.. Deborah sempre um show de sensibilidade, observação e tocando direto na ferida de muitos com aquele leve puxão de orelhas com luvas de pelica... Maravilhoso texto, cheio de verdades do nosso deficiente cotidiano... É necessário INCLUIR de forma ampla, do mesmo jeito que a massa do bolo. Não somos e nem pretendemos ser guetos e sim bolo, juntos e misturados... A máxima é antiga mas a realidade é atualíssima. Como pode ser uma democracia se há separação(?).. você pra cá, você pra lá. Não, somos todos um só, para que diferentes, sejamos iguais de uma só forma: DE NOVO, JUNTOS E MISTURADOS, afinal somos ou não uma parte de um único todo? Gente, povo, população... Concordo, somente a acessibilidade atitudinal fará com que as diferenças nos tornem iguais...e. só assim estaremos verdadeiramente INCLUÍDOS... :

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    1. Querida amiga Lisbeth Marge, muito obrigada por mais esta demonstração de solidariedade. Como você muito bem observou, temos que derrubar os muros/guetos e construir pontes/união. No viver diário as cenas do filme apresentam os seres humanos misturados no passa a passa frenético. É isso aí amiga! Seu AUmigo Jimmy Prates esteve hoje em Magé, falando sobre acessibilidade atitudinal. E assim, fazemos como diz a canção de Milton Nascimento: o artista deve ir onde o povo está... Carinhosamente Deborah Prates

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