MELANCOLIA...
Descrição da foto para DV'S: Deborah Prates, de óculos lilás e vestido listrado de lilás e azul claro, está agachada abraçando Jimmy Prates, que mantém seu olhar em um ponto acima da câmera.
Para alguns, quase madrugada,
para outros hora de sair para mais um dia de luta. Pingos grossos e oscilantes
batiam nas folhagens das minhas plantas na janela. Não parava de pensar num
e-mail que abrira fazia pouco. A ausência do olhar holiístico da maioria é
aterrorizador!
O maldito olhar
assistencialista que nos deixa invisíveis aos olhos da sociedade é contundente
em 2013. Pessoas dizem querer fazer por nós... Um "bolinho" de cada
vez e com glacê! Já disse numa crônica que bolo com glacê nunca mais!
(http://deborahpratesinclui.blogspot.com.br/2013/03/bolo-sem-glace.html)
O homem é um todo
indivisível, e que não pode ser explicado pelos seus distintos componentes
(físico, psicológico ou psíquico), considerados separadamente. Pelas ruas da RJ
andam, na mesma calçada, cegos, cadeirantes, surdos, muletantes, obesos,
negros, ciganos... Então, como a sociedade pode perder esse contexto tão óbvio?
Pois é, é com profunda
melancolia que concluo que calçadas não são para todos, na mesma proporção de
que os GOVERNOS são para poucos. Que teatro grotesco cismam os politiqueiros
baratos em fazer a cada outubro eleitoral! No contraponto, lembro de um certo
domingo de sol na praia quando meus ouvidos viram uma voz masculina colocar-se
de pé bruscamente, sob a alegação de que estava atrasada para ir receber R$
100,00, pelo seu voto... Nasceu primeiro o ovo ou a galinha?!
Para mim a inigualável obra
de Platão "Alegoria da Caverna" mostra bem a prisão do conhecimento
em que estamos mergulhados. Em sua alegoria enxerga que o homem poderá viver
no mundo das sombras/ ignorância,
acreditando em um mundo completamente diferente da realidade, podendo talvez,
atingir a luz, ou seja, sabedoria, para viver livre de preconceitos, conhecedor da verdade.
Na tristeza dessa manhã fiz
uma breve retrospectiva no que vejo na mídia em geral. Novelas mostram uma ou
outra deficiência de cada vez. Mas no nosso viver diário todos andam
misturados! Daí é que os personagens, por ilustração, bem poderiam pedir
informação para um cego, ou trombar com um surdo, ou ajudar um obeso num
habitual desequilíbrio. Nunca soube de uma cena em que um famoso ajuda uma
pessoa com nanismo a fazer uma ligação num "orelhão". Não existimos?
A sensibilidade dos artistas só consegue nos integrar, contudo, falta um bocado
para nos incluir. Eis a prova do olhar assistencialista às escâncaras! Crítica
destrutiva? Claro que não! Apenas constatações do tipo: As deficiências/
diferenças têm a idade do homem!
Fui reler o sábio texto
Solidariedade, por Rubem Alves. "Palavras que ensinam são gaiolas para
pássaros engaioláveis. Os saberes, todos eles, são pássaros engaiolados. Mas a
solidariedade é um pássaro que não pode ser engaiolado. Ela não pode ser dita.
A solidariedade pertence a uma classe de pássaros que só existem em vôo.
Engaiolados, esses pássaros morrem".
Então, a cultura da
superficialidade - que nos engaiolou na fôrma da indústria da moda -
retirou-nos a autonomia do pensamento.
Ainda com as portas das gaiolas abertas não sabemos mais voar, sonhar... a
esperança pereceu... Vamos tocando ao ritmo da canção interpretada por Zeca
Pagodinho, "...deixa a vida me levar; vida leva eu..."
Estamos nas sombras descritas
pelos sábios dos sábios, Platão. Acorrentados numa caverna. Faz sete anos
(idade da cegueira) que aprendi que somente através do CONHECIMENTO
conseguiremos nos libertar das grossas e pesadas correntes que nos aprisionam
desde o início da civilização. Necessitamos aprender/conhecer o
outro/semelhante. Como? Através do exercício diário da ACESSIBILIDADE
ATITUDINAL. Sim, falo de mudanças dos nossos maus hábitos, a fim de que
consigamos agigantar a rede da SOLIDARIEDADE. Somente estando na pele do outro
é que conseguiremos nos livrar das sombras que nos divide.
Desejo
que nos novos filmes tenhamos a homogênea mistura da massa do bolo. Estou
sempre na beirinha da tigela escorregando para dentro para ser mixada com ovos,
açúcares, farinhas...
Quero ser INCLUÍDA! Queridos
amigos, pratiquem diariamente a verdadeira INCLUSÃO!
A chuva passou, minhas
plantas estão saltitantes, sinto chegando um raio de sol... dias de chuva se
alternam com os de sol; a tristeza se alterna com a alegria; a saúde se alterna
com a doença... sempre um dando lugar ao outro... E com que facilidade nos
esquecemos que nada é eterno, a não ser o próprio movimento! O Universo
conspira a nosso favor?
Carinhosamente.
DEBORAH PRATES
Analogias e conexões melancólicas, amiga, porém de bela sensibilidade!!! bjs
ResponderExcluirQuerida amiga Luci, bem solidário de sua parte postar esse comentário. De fato, penso que o que o corpo social faz em relação aos grupos sociais favoráveis é desumanidade escancarada! Como militante, não posso me calar enquanto muitos alcançam glórias com a nossa "bandeira". Afinal, se não falarmos, como a coletividade poderá aferir suas más atitudes? É isso aí, estamos juntas por um planeta com maior bem-estar para todos. Carinhosamente Deborah Prates
ExcluirBelíssimo texto querida amiga, ou melhor, belíssimo desabafo! E na ciranda da inclusão, puxam-se tapetes e colocam cacos de vidro no caminho.
ResponderExcluirQuerido amigo Amauri, grata por sua solidariedade! É como você diz, muitos cacos de vidro na estrada da inclusão e ficar de pé sobre eles é o grande desafio. O importante é que a sociedade conheça onde aperta o nosso sapato, sendo que o calo foi criado pela própria... Carinhosamente Deborah Prates
ExcluirAhhhhhhhh.. Deborah sempre um show de sensibilidade, observação e tocando direto na ferida de muitos com aquele leve puxão de orelhas com luvas de pelica... Maravilhoso texto, cheio de verdades do nosso deficiente cotidiano... É necessário INCLUIR de forma ampla, do mesmo jeito que a massa do bolo. Não somos e nem pretendemos ser guetos e sim bolo, juntos e misturados... A máxima é antiga mas a realidade é atualíssima. Como pode ser uma democracia se há separação(?).. você pra cá, você pra lá. Não, somos todos um só, para que diferentes, sejamos iguais de uma só forma: DE NOVO, JUNTOS E MISTURADOS, afinal somos ou não uma parte de um único todo? Gente, povo, população... Concordo, somente a acessibilidade atitudinal fará com que as diferenças nos tornem iguais...e. só assim estaremos verdadeiramente INCLUÍDOS... :
ResponderExcluirQuerida amiga Lisbeth Marge, muito obrigada por mais esta demonstração de solidariedade. Como você muito bem observou, temos que derrubar os muros/guetos e construir pontes/união. No viver diário as cenas do filme apresentam os seres humanos misturados no passa a passa frenético. É isso aí amiga! Seu AUmigo Jimmy Prates esteve hoje em Magé, falando sobre acessibilidade atitudinal. E assim, fazemos como diz a canção de Milton Nascimento: o artista deve ir onde o povo está... Carinhosamente Deborah Prates
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