Muito triste ler na mídia que o procurador Deltan
Dallagnol regozijava-se em nomear o então presidente Lula como
"nove", por ele ter somente nove dedos em decorrência de um acidente
de trabalho. Essa atitude preconceituosa tem o nome de capacitismo. O que é
isso? É uma espécie do gênero preconceito que a sociedade atribui às pessoas
com deficiência, reduzindo-as à própria deficiência. O procurador, nessa lógica
discriminatória, nomeou Lula como "nove", assim como o chamaria de aleijado,
ceguinho, surdinho, demente, ou de qualquer outra forma pejorativa com o único
fito de vincar quaisquer outras deficiências.
Quasímodo - personagem de Victor Hugo na obra O
corcunda de Notre Dame, foi chamado de bobo da corte em decorrência de sua
deficiência física. O contexto desse clássico mostrou a forma desumana com que
a sociedade da Idade Média enxergava a pessoa com deficiência, pelo que é
inconcebível o representante do Ministério Público - que deveria saber sobre
DIREITOS HUMANOS - reproduzir essa atitude abjeta no Século XXI. Quero crer que
ele seja um ponto fora da curva nessa honrosa Instituição, cujos representantes
têm o dever constitucional de enxergar todos os corpos como sujeitos. Sim. As
pessoas com deficiência constituem-se como corpos sujeitos, providos de
emoções, história e subjetividade. Por essas e outras tiradas burras e
insensíveis é que fica cristalino que precisamos, com urgência, rever o nosso
convívio social.
No próximo 21 de setembro será o Dia Nacional de
Luta da Pessoa com Deficiência, cujo objetivo é conscientizar a sociedade para
que enxergue esse grupo populacional como igual, sem a discriminação decorrente
do terrível capacitismo. Nessa data ficarei esperando o pedido de desculpas do
procurador Deltan Dallagnol a todas as pessoas com deficiência pela ofensa por
ele praticada. Como lição de casa até esse dia é que deixo para Dallagnol a
leitura diária do pensamento do sociólogo Boaventura de Sousa Santos:
"Temos o direito a ser iguais sempre que a diferença nos inferioriza;
temos o direito de ser diferentes sempre que a igualdade nos
descaracteriza." (SANTOS, Boaventura de Sousa. A construção multicultural
da igualdade e da diferença. Coimbra: Oficina do CES, n. 135, jan
1999, p. 44).
Obs: Da mesma forma que foi com o Lula, poderia ser
com qualquer pessoa. Não vamos deixar opiniões políticas interferirem na
crítica contra um preconceito universal.
Obs 2: Peço aos que entenderem justo que compartilhem para
que esta mensagem chegue até procurador Deltan Dallagnol.
Apoiada Dra. Deborah Partes.
ResponderExcluirCom certeza, vamos compartilhar.
ResponderExcluirMinha querida e aguerrida companheira de lutas pela igualdade, respeito às diferenças e pelos Direitos Humanos, esse senhor, desmoralizou a lava jato com as mensagens abjetas e seus meios de "fiscalização" incertos, agora se acha ainda na condição de usar termos esdrúxulos para nos afrontar... Somos um segmento íntegro e pelo seres que somos, pelas nossas lutas e conquistas, merecemos respeito. Obrigada minha mestra Dra Deborah Prates! Comparilharei...
ResponderExcluirÉ realmente um atitude muito preconceituosa! Ele, o procurador, é que deve ser um "noves fora nada" na questão dos Direitos Humanos!
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirPerfeito, Deborah! Muito bem colocado e oportuno. Grata por nos representar nesses tempos sombrios.
ResponderExcluirA nossa Constituição Federal é uma das Cartas Magnas mais completas e inclusivas, infelizmente até ela está sendo dilapidada, pois não cumpre a sua função social sozinha. O poder, a determinação, os desmandos e a ganância interferem na sua real aplicabilidade. Mas, não podem nos impedir de resistir e lutar.
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