segunda-feira, 9 de setembro de 2019

Nota de repúdio



Muito triste ler na mídia que o procurador Deltan Dallagnol regozijava-se em nomear o então presidente Lula como "nove", por ele ter somente nove dedos em decorrência de um acidente de trabalho. Essa atitude preconceituosa tem o nome de capacitismo. O que é isso? É uma espécie do gênero preconceito que a sociedade atribui às pessoas com deficiência, reduzindo-as à própria deficiência. O procurador, nessa lógica discriminatória, nomeou Lula como "nove", assim como o chamaria de aleijado, ceguinho, surdinho, demente, ou de qualquer outra forma pejorativa com o único fito de vincar quaisquer outras deficiências.

Quasímodo - personagem de Victor Hugo na obra O corcunda de Notre Dame, foi chamado de bobo da corte em decorrência de sua deficiência física. O contexto desse clássico mostrou a forma desumana com que a sociedade da Idade Média enxergava a pessoa com deficiência, pelo que é inconcebível o representante do Ministério Público - que deveria saber sobre DIREITOS HUMANOS - reproduzir essa atitude abjeta no Século XXI. Quero crer que ele seja um ponto fora da curva nessa honrosa Instituição, cujos representantes têm o dever constitucional de enxergar todos os corpos como sujeitos. Sim. As pessoas com deficiência constituem-se como corpos sujeitos, providos de emoções, história e subjetividade. Por essas e outras tiradas burras e insensíveis é que fica cristalino que precisamos, com urgência, rever o nosso convívio social.

No próximo 21 de setembro será o Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência, cujo objetivo é conscientizar a sociedade para que enxergue esse grupo populacional como igual, sem a discriminação decorrente do terrível capacitismo. Nessa data ficarei esperando o pedido de desculpas do procurador Deltan Dallagnol a todas as pessoas com deficiência pela ofensa por ele praticada. Como lição de casa até esse dia é que deixo para Dallagnol a leitura diária do pensamento do sociólogo Boaventura de Sousa Santos: "Temos o direito a ser iguais sempre que a diferença nos inferioriza; temos o direito de ser diferentes sempre que a igualdade nos descaracteriza." (SANTOS, Boaventura de Sousa. A construção multicultural da igualdade e da diferença. Coimbra: Oficina do CES, n. 135, jan 1999, p. 44).


Obs: Da mesma forma que foi com o Lula, poderia ser com qualquer pessoa. Não vamos deixar opiniões políticas interferirem na crítica contra um preconceito universal.

Obs 2: Peço aos que entenderem justo que compartilhem para que esta mensagem chegue até procurador Deltan Dallagnol.

7 comentários:

  1. Minha querida e aguerrida companheira de lutas pela igualdade, respeito às diferenças e pelos Direitos Humanos, esse senhor, desmoralizou a lava jato com as mensagens abjetas e seus meios de "fiscalização" incertos, agora se acha ainda na condição de usar termos esdrúxulos para nos afrontar... Somos um segmento íntegro e pelo seres que somos, pelas nossas lutas e conquistas, merecemos respeito. Obrigada minha mestra Dra Deborah Prates! Comparilharei...

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  2. É realmente um atitude muito preconceituosa! Ele, o procurador, é que deve ser um "noves fora nada" na questão dos Direitos Humanos!

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Perfeito, Deborah! Muito bem colocado e oportuno. Grata por nos representar nesses tempos sombrios.

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  5. A nossa Constituição Federal é uma das Cartas Magnas mais completas e inclusivas, infelizmente até ela está sendo dilapidada, pois não cumpre a sua função social sozinha. O poder, a determinação, os desmandos e a ganância interferem na sua real aplicabilidade. Mas, não podem nos impedir de resistir e lutar.

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