A NUDEZ DA DIGNIDADE
Descrição da foto para deficientes visuais: Morador de rua com cabelos grisalhos, casacão verde musgo, calça jeans desgastada e com velho sapato. Está sentado com as costas amparadas numa parede cinza e a sua volta três cachorros. Ao lado direito está sua bolsa de cor marrom e próximo ao seu pé direito está o seu chapéu marrom claro.
“Toda pessoa traz dentro de
si uma canção de amor.”
Sentia que estava quase na esquina da
Rua Cândido Mendes pela força do vento que soprava em nossa direção.
De mãos dadas minha filhota e eu, ela
com sua cadelinha à direita e Jimmy (meu guia), à minha esquerda, paramos ao
ouvir.
Estancamos. Perguntei.
-Quem nos fala?
A resposta não veio. Repeti a pergunta.
-Quem nos falou?
Novo silêncio. Então complementei.
-É que o cego vê com os ouvidos e ouve
com o coração!
A voz se fez ver.
-Vinícius!
Interagi.
-Olá Vinícius! Você mora por aqui?
Mais um silêncio.
-Você é daqui Vinicios?
-Sou um morador de rua.
Senti que haviam muitas pessoas a nossa
volta. O local é bastante movimentado e rodeado de ambulantes com suas bancas.
Todos calamos. Continuei.
-Sou Deborah e todas as vezes que você
passar por mim grite pelo meu nome. Terei muita honra em falar com você
Vinícius!
Ele respondeu em tom de voz meio
embargada.
-Vá com Deus e um bom final de semana
para a senhora e sua filha!
Quando ouvi de um morador de rua o nome
de Deus fiquei tão emocionada que abaixei a cabeça e comandei Jimmy para que
continuasse a marcha rumo a nossa casa. Minha filhota - que a tudo acompanhava
calada, espontaneamente, retrucou.
-Vinícius! Bom final de semana para
você também!
No pequeno percurso até a nossa porta
confabulei com minha filha sobre o que levaria um morador de rua, tão
discriminado e repudiado por toda sociedade, a falar em nome de Deus! E minha
melhor amiga ponderou.
-Pois é! Mãe, a gente tem tudo e reclama.
Ele só tinha um pedaço de pão numa das mãos tão suja e noutra um papelão! Suas
roupas eram rasgadas, seus pés descalços, seus cabelos indescritíveis, mas
trazia nos olhos tanta solidariedade e sinceridade ...
O dia prosseguiu como de hábito. A noite
veio e não conseguia dormir pensando em
Vinícius. Não compreendia como um homem tão castigado pela vida
ainda era temente ao Criador.
Constatei naquele dia, tão importante
para nós, que a FELICIDADE, AMOR e PAZ são bens que habitam o nosso próprio
interior. Por isso é que não adianta perder o nosso precioso tempo buscando
tais riquezas em shoppings, templos e em viagens ...
Agora tenho a certeza de que esses bens
não têm preço nem etiqueta de grife.
De fato a FELICIDADE é um estado de
alma e, só aquele que atinge a plenitude, é que tem competência para estar
perto de DEUS. O endereço de Vinícius é a sua DIGNIDADE e, com quanta
propriedade anda desnudo!
Penso que, a sua moda, Vinícius é
FELIZ. Nós também somos FELIZES.
Você que me lê, também é FELIZ?
Carinhosamente.
DEBORAH PRATES
A felicidade está antes no amor e por isso é que, pelo amor, conseguimos perceber no outro essa sintonia a nos comover completamente.
ResponderExcluirCadinho RoCo
Olá Cadinho, muito obrigada pela interação. Concordo plenamente com você. carinhosamente Deborah Prates
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