sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Acessibilidade Atitudinal sob o foco da igualdade de gênero

ACESSIBILIDADE ATITUDINAL SOB O FOCO DA IGUALDADE DE GÊNERO 



Descrição da foto: primeira mesa de palestras do evento da OAB MULHER RJ, sendo Deborah Prates a primeira da direita para a esquerda. 


            Na incansável militância para provar que as acessibilidades interessam a toda sociedade e não apenas às pessoas com deficiência foi que tive a honra de integrar, como palestrante, o I Forum da Comissão OAB-Mulher ocorrido no dia 25/8.


            O meu tema foi: ACESSIBILIDADE ATITUDINAL SOB O FOCO DA IGUALDADE DE GÊNERO. Persisto ser a atitudinal a principal das acessibilidades, já que representa a chave para um Brasil mais igualitário em oportunidades para todos. A OAB RJ recebeu, com sucesso, homens e mulheres ávidos para discutir esse crucial tema da igualdade de gênero, sendo a minha palestra um ponto de interrogação. Pairava no ar: o que a acessibilidade tem a ver com igualdade entre homens e mulheres?


            Iniciei cumprimentando os presentes primeiro fora do microfone e, seguidamente, usando o mesmo. Elucidei que os cegos têm que se sentir incluídos e não apenas integrados. Disse que eu vejo com os ouvidos, pelo que materializo o humano pela direção da sua voz. Então, acho um desrespeito o cego ficar olhando para as caixas de som, as quais sempre estão na direção oposta da real localização de quem fala.


            Claro que levei um intérprete de LIBRAS para que as pessoas surdas ou com deficiência auditiva, também estivessem incluídas. Respeito é bom e nós o exigimos!


                        Lamentavelmente a sociedade não tem consciência da igualdade de oportunidades aos diferentes. Desconhecem a necessidade da audiodescrição para os humanos cegos, com baixa visão, com deficiência intelectual, autistas, disléxicos, com síndrome de Down e idosos.


            Por esse torpor mental é que precisam praticar diariamente exercícios de atitudinal, a fim de mudar os maus hábitos em geral.


            Continuei comandando a ginástica cerebral afirmando serem as mulheres - por questões culturais - mais presentes na educação dos pequenos, razão porque precisam ser PROATIVAS. Desenvolvendo essa característica sei que terão muito mais iniciativas e responsabilidade na formação de personalidades éticas. Nesse caso o treinamento é refletir sobre a pergunta: que planeta deixaremos para os nossos filhos?


            Penso que a resposta esteja em outra pergunta: que tipo de filhos deixaremos para o planeta? Certo é que a pior cegueira é a voluntária, opcional. Pesquisas dão conta de que em 2015 as mulheres estão com o nível de escolaridade maior do que os homens. Logo, têm a capacidade de pensar formas antecipadas de prefinir e solucionar os conflitos de igualdade de gênero. A genialidade e inteligência das mulheres contemporâneas, certamente, conseguirá propiciar o desejado bem-estar no presente, bem como garantir a felicidade para as gerações futuras. Eis o princípio do humano sustentável!


            Para desconstruir essa sociedade machista que nos assola, mister se faz mostrar que somos biologicamente diferentes, porém iguais em direitos e obrigações, de maneira que temos que ter, por ilustração, igual remuneração sempre que exercermos o mesmo trabalho que o homem.


            Inconcebível dentro dos nossos lares continuarmos regando, cultivando, as velhas tradições, ou melhor, os tantos preconceitos que nos foram sendo transmitidos por pais, professores, livros, etc, acerca do mito da submissão da mulher em um global contexto.


            Os filhos do século XXI ainda são criados na cultura de que são as mulheres frágeis sob a ótica do ser físico, quanto do ser emocional e do econômico. Assim, a conclusão errônea é a de que as mulheres ainda hão que ser tuteladas pelos homens.


            É nesse histórico preconceito que as mulheres ainda permitem que em suas casas os trabalhos domésticos sejam divididos entre os típicos dos homens e os típicos das mulheres. Isto significa que as mães e filhas estão obrigadas a fazer a comida e cuidar dos afazeres do lar, enquanto que os maridos e filhos estão vinculados aos afazeres com o carro, os intelectuais e os de reparos gerais relativos à casa.


            Esses códigos de condutas têm que ser desconstruídos pela sociedade, sendo o começo em cada lar. Simples assim! Os pais hão que dar o exemplo para os filhos, pelo que nunca mais as crianças ouvirão as horríveis máximas: rosa é cor das mulheres e o azul é dos homens; meninos brincam com bolas e carros e as meninas com bonecas, panelinhas e vassouras. Não mais. Doravante o pai, se quiser, usa camisa rosa e não se incomoda se o filho preferir brincar com a boneca da irmã e, por seu turno, se esta preferir o caminhãozinho do irmão.


            Na família hodierna a mulher faz também pequenos reparos, na medida em que o homem prepara o almoço do domingo. Vale dizer que a palavra mágica da hora é participação e, não mais ajuda. Homens e mulheres são corresponsáveis na condução familiar.


            No momento em que as crianças perceberem que em casa a mãe e o pai são iguais em direitos e deveres, ficará mais fácil a aceitação dos diferentes. Assim, com a igualdade de gênero cultivada em casa, por ilustração, um conceituado e tradicional colégio religioso no Rio de Janeiro irá cerrar as suas portas. Isto porque cultiva o sexismo, valendo dizer que só os meninos podem ser matriculados. E o preconceito não para por aí! Esse dito estabelecimento de ensino não tem qualquer acessibilidade, pelo que não aceita meninos cegos! Tive a oportunidade de telefonar para a secretaria para falar sobre o edital de 2016, quando a atendente Alessandra disse que: - Esse colégio não aceita meninos com deficiência por não ter adequações para tanto. Absurdo, hein?


            Então, com simples atitudes praticadas em casa tudo poderá ser diferente. Depende muito de nós querermos desconstruir tudo quanto não pensamos para aceitar. Temos que quebrar as regras estabelecidas e desafiar aqueles que insistem em nos hostilizar, nos discriminar!


            Exercitando a atitudinal teremos a oportunidade de reciclar os cruéis preconceitos, rever inadequados conceitos e, desse modo, fazer as pazes com a ética na formação de pessoas solidárias. Daí teremos professores, médicos, gestores, engenheiros e tantos mais profissionais solidários que saberão bem recepcionar as pessoas com deficiência. Hidrantes sobre rampas, bancas de jornal sobre pisos táteis, Processo Judicial Eletrônico (PJe) fora do W3C...Nunca mais! Repito: simples assim!



            Encerro esta crônica aduzindo que o simples não é o simplório. Convido o leitor a refletir sobre um pensamento do genial Leonardo da Vinci: "A simplicidade é o último grau da sofisticação".


** Parabéns a toda OAB MULHER RJ pela realização do evento, em especial a presidenta Rosa Maria Fonseca, que acreditou no projeto.

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